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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cap. 16 - Uma coisa leva a outra


... No crew bar estavam todos os setores, e a galera do restaurante, e do bar também, perceberam a movimentação, uma das meninas do mar se aproximou e perguntou qual era o fervo. O nome dela era Kelly, curitibana muito gente fina do bar. Então o motivo da reunião foi explicado a ele e ao restante dos camareiros que estavam ali.
A Marília, camareira tímida do Rio Grande do Sul, que estava namorando o Bruno paulista, também camareiro, explicou o raciocínio.

- Gente pensem comigo: a gente sendo voluntários para ir de "transfer" (transferência pro outro navio), é a garantia que iremos pra Europa, trabalhar na temporada de lá. Porque todo mundo diz que metade de nós irá ficar no navio só até acabar a temporada aqui, só vão os melhores. Quem já fala bem espanhol e inglês, e aquele latinos de merda...

Bruno, o namorado dela, continuou...
- Bem dessa, então vamos fazer a lista e entregar pro Eldon antes que outras pessoas entreguem, pra garantir nossa vaga no outro navio, e nossa ida para a Europa...


Ninguém questionou, todos concordaram com o feito, e o chefe Eldon comentou que precisaria de umas 15 pessoas para o "transfer", então ali completava a maioria das vagas e ainda sobraria mais algumas.
A lista passou sobre a mesa, e todo mundo foi preenchendo com nomes e alguns outros dados, como número de cabine e sessão.
A Kelly do bar, disse que não sabia nada disso, que o chefe do bar não havia falado nada. Mas nós confirmamos a ela, que não era um boato, saiu da boca do nosso chefe.

Então, a fofoca foi se espalhando no navio todo, em todos os setores, em menos de dois dias, todo mundo da tripulação comentava sobre esse possível transfer. Ainda faltava quase um mês para o fim da temporada no Brasil, e o tempo passou mais devagar, pois todos estavam ansiosos com a confirmação da transferência e de quem ia ou não iria pra Europa. Os dias foram passando, e logo após o cruzeiro de carnaval, iríamos ter a resposta de quem seria transferido mesmo ou não. A Tereza, uma brasileira que estava no segundo contrato dela, avisou que isso era apenas fervo, que TODO MUNDO iria para a Europa, que eles falavam isso apenas para assustar a galera. Mas todos estavam com receio da mesma forma.
Vocês, quando embarcarem, ouvirão essa mesma história sobre a temporada brasileira e européia.

Os dias passaram e faltava apenas um cruzeiro para a chegada do cruzeiro de carnaval. Depois do carnaval havia apenas mais outro e partiríamos para Barcelona, na Espanha (ou não).
Eu me preocupei um pouco com isso, o dia do segundo pagamento estava chegando, enquanto isso eu estava me virando com as gorjetas, que, para o contrário do que dizem, são muitas no Brasil, pelo menos eu recebi horrores.
Eu era um dos poucos, ou senão o único, que não dormia a tarde, preferia conhecer as cidades, logo posto algo com as fotos da rota que o Soberano fazia.

Eu estava indo todos os dias para o crew bar, e num certo dia estávamos combinando em ir para a praia em Ilhéus-BA, e nisso fui deixar a roupa separada para não demorar muito no dia seguinte arrumando nada. Nisso percebi a quantidade de roupa suja que eu tinha para lavar, era um saco enorme. E eram 1 e meia da manhã, mas se eu não lavasse não teria nem como sair, a não ser que eu fosse de uniforme né!!!
Lá foi eu, com um saco nas mãos, sabão em pó e amaciante. Cheguei lá, as máquinas estavam todas ocupadas. Subi no crew bar mais um tempo e voltei quase uma hora depois, enfim havia uma das máquinas livre.

No navio, é tudo automático, você joga sua roupa dentro da máquina, programa ela, geralmente a programação dura uns 40 minutos, depois desse tempo tem mais uns 40 para secar toda a roupa, mas dai o tempo pra secar varia de acordo com o tecido e peso da roupa. Por mais que não precisa fazer nada além de jogar de uma máquina para a outra, ENCHE O SACO.
A roupa terminou de bater, eram 3 horas da manhã, o crew bar estava fechado e a maioria da tripulação estava dormindo. E eu estava caindo de sono, mas ainda tive que esperar um pouco para secar, pois todas as secadoras estavam ocupadas. Eu resolvi esperar ali mesmo, na lavanderia para desocupar alguma secadora. Enquanto eu esperava, meus olhos fecharam e só despertei as 4 da manhã, pois um dos filipinos queria usar a mesa para colocar as toalhas limpas. Eu me desesperei quando vi o horário, eu ainda não tinha colocada roupa nenhuma para secar, então coloquei e tentei ficar acordado, mas não funcionou, dormi novamente na mesa da lavanderia, mas dessa vez um filipino dividiu o espaço comigo. Logo o outro acordou nos dois e eu peguei minha roupa e voltei para a cabine, eram 5 e meia da manhã. Eu estava podre, cheguei na minha cabine, arrumei o relógio pra despertar as 7 e meia e capotei.

Um som alto e agudo me despertou na cabine, o estranho, que não era o som que meu despertador fazia, era o TELEFONE. Atendi sem ao menos ver a hora. Era chefe Morazam, então ele perguntou.

- NO trabajas hoy muchacho?
- Claro que vou sim...
Eu respondi ainda com a voz de sono.

- Entonces venga, cojer su llave...

Ele desligou sem se despedir, foi aí que fui ver a hora, era 9 e meia da manhã, e eu já devia estar trabalhando há 1 hora e meia.
Nunca me vesti tão rápido na minha vida, em menos de 3 minutos eu já estava na oficina, pegando a chave e correndo para a minha sessão, como não tive tempo para escovar os dentes e nada mais, levei a escova pra minha sessão de cabines.

Falei com a Fran, ela me falou que alguns dos passageiros já haviam saído das cabines de minha sessão. A Mércia deu recado de alguns deles, então fui pra cabine mais próxima do meu trolley.
Entrei na cabine, não era uma cabine bagunçada, era cabine de família, normal, desarrumação padrão de camas usadas e banheiro molhado de banho diurno. Eu falei muito pouco com as meninas, pois não gosto de abrir a boca sem escovar os dentes. Então fui no banheiro da cabine, e escovei ali mesmo, usando o creme dental dos passageiros mesmo.
Arrumei a cabine inteira e fui seguindo trabalhando.
O bom que na temporada brasileira os passageiros não saem tão cedo quanto na Europa, então no horário que cheguei na sessão ainda eram poucas cabines pedindo arrumação. Dobrei as toalhas, limpei mais algumas cabines que foram desocupando ao passar da manhã.

Eram quase 13 horas quando as meninas falaram para gente descer pro almoço. Descemos sem pressa, pois o navio ainda não havia chego em Ilhéus.
Almocei com a galera de sempre, rimos alto, comemos a luz do sol. na varanda do crew bar.
E todo mundo saiu e foi pra suas cabines para escovar os dentes, eu, como sabia que minha escova estava na minha sessão, fui direto pra lá.
Vasculhei todo o meu "Locker" e o meu "trolley", e nada da bendita escova aparecer. Foi aí que me veio na cabeça.
"Filha da putaaaa, eu esqueci na cabine do passageiroooooooo"

Eu fiquei tão desesperado quando lembrei daquilo que fui correndo até a cabine e abri com tudo, sem ao menos bater na porta.
E pra piorar a situação, no instante que abri a porta da cabine, meus passageiros deram um pulo na cama, eles estavam dentro da cabine!!!
Imaginem a cara que fiquei em ter aberto sem bater, além disso, a cara dos passageiros me olhando imaginando o que havia acontecido para eu entrar assim tão bruscamente na cabine.

- Aconteceu alguma coisa Gustavo?
- Eeer... e é... não... na verdade... eu posso ver uma coisa?
- O que tem alguma coisa errada no quarto?
- Não... na verdade eu vim buscar minha escova de dentes...
(Vocês não tem noção do quanto eu fiquei vermelho ao falar isso, mas não passou nada na minha cabeça para usar de desculpa)

- Ah! Então é sua? Nós vimos ali uma escova diferente mesmo, mas eu pego pra você.

O pai da família pegou a escova pra mim, a mulher dele olhou com uma cara de espanto, ao mesmo tempo curiosa para saber o que a escova do camareiro de cabine deles estava fazendo ali...

Eu fechei a porta da cabine rindo da situação.
Galera, essa é uma das situações que não esqueço no navio, uma avalanche de acontecimentos,
tudo porque deixei acumular roupas para lavar.
A partir desse dia eu dava a roupa para a minha "Helper" lavar, pagava algo a mais pra ela, que gostava muito de mim, e fazia mais barato. Foi melhor assim, não precisei me preocupar com roupa nunca mais. Chegavam limpas e passadas na minha mão.
Contratem alguém para este serviço, vale a pena, você ganha tempo, e economiza dor de cabeça. Fica a dica.

Mas isso também não aconteceria se eu tivesse um companheiro de cabine gente fina, que me acordasse de manhã, ao invés de me deixar dormindo sabendo dos horários.

Cheguei na cabine após voltar da praia de Ilhéus, e falei com ele sobre o fato. Ele riu da minha cara, falou mal de brasileiros, como era de costume, e disse que não estava nem aí pra me acordar, que era melhor assim que era um brasileiro a menos na Europa.
FILHA DA PUTA MESMO AQUELE HONDURENHO.

Ele ria tomando refrigerante de um copo grande que ele usava sempre, um copo da Pullmantur, ele usava aquele copo todos os dias, toda vez que chegava na cabine, pegava um refrigerante do frigobar e enchia o copão da empresa.
Eu não falei nada pra ele, deixei ele ficar resmungando mal de brasileiros, eu apenas olhei o copo dele, a garrafinha de refrigerante de 600 ml ainda pela metade, que ele guardou na geladeira.
Apenas observei pensando no que eu iria fazer com aquilo tudo...


GALERA FOI MAL EU SUMI DE VEZ, ESTAVA VIAJANDO E FAZENDO ALGUMAS COISAS QUE ERAM LONGE DA NET, MAS AGORA TO DE VOLTA PROMETO NO MINIMO POSTAR UM CAPITULO POR SEMANA DA MINHA HISTORIA AKI, E OLHA Q TEM MTA COISA PELA FRENTE, INDIQUEM, SIGAM E ACOMPANHEM O BLOG QUE FALA A VERDADE NUA E CRUA SOBRE NAVIOS - A VIDA DO CREW! AUHAUAHUAHUAHUAHUAHUA

AVISEM A GALERA Q JAH TA ATUALIZADO BJAO!!! AAAAAAAH, COMENTEM, QUE É ATRAVÉS DOS COMENTÁRIOS QUE SEI SE VCS TÃO ACOMPANHANDO OU NÃO O BLOG. VALEU, PERGUNTEM O QUE QUIZEREM QUE NO POST NUMERO VINTE VOU FAZER UM VÍDEO RESPONDENDO TUDO E FALANDO DE CADA COMENTÁRIO DE VOCÊS. VALEU E PROMETO NÃO SUMIR

FOTO: ILHÉUS COM A GALERA.