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terça-feira, 13 de março de 2012

Cap. 21 - A ilha privativa


... Todos à minha volta estavam curiosos para saber o quanto eu havia ganhado. Eu contei as notas mais uma vez e a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi ligar para minha mãe, da mesma forma que liguei no primeiro salário, mas dessa vez a notícia seria outra. Fora as gorjetas que foi o que me quebraram o galho durante o mês, eu havia recebido 2.340,00 dólares, na época equivalia a 5.499 reais, pois trocando os dólares dentro do navio, conseguíamos o câmbio a 2,35 reais cada dólar.

Ninguém entendeu a minha pressa pra chegar a minha cabine, afinal, depois do decepcionante primeiro salário, não estávamos tão empolgados com o “PAY DAY”, mas graças a Deus, o conteúdo do envelope naquele dia tinha sido bem diferente do envelope passado.

Nos primeiros meses, geralmente nos primeiros três, há um desconto que a Pullmantur chamada de “calção”, uma forma de seguro caso o tripulante desistisse e rompe-se contrato, esse dinheiro seria usado para pagar a passagem de volta. O desconto é de 700 dólares (na minha época). Caso você cumpra o contrato todo, o valor é devolvido no seu sign-off. Mesmo com o desconto eu tinha recebido a bela quantia.

Peguei o telefone, liguei para minha mãe, ela mal pode me dar oi eu logo fui falando...

- Mãeeee! Vou ter que te dizer que foi mais um mês que não poderei depositar aqueles 1000 que peguei com você...

- Não tem problema filho, e ta compensando o trabalho?

-Mãe, não poderei depositar porque vou mandar dinheiro pra você vir aqui no porto de santos me ver, quero que pegue esse dinheiro pessoalmente, e aproveita e me traga um notebook também e uma máquina digital.

-Mas filho, vou ver como que ta o limite do meu cartão pra pegar tudo isso.

- Mãe, vou pagar tudo a vista, esse mês recebi, convertendo em reais, líquido de 5 mil conto manhêÊEÊ! Finalmente vi que valia a pena mesmo esse negóciooo!

Minha mãe ficou hiper feliz, senti o sorriso na voz dela, agora não sei se foi porque eu estava finalmente tendo resultado financeiro no trabalho que tanto me dediquei pra conseguir, ou porque eu iria pagar o que eu devia pra ela. (kkkk)

Combinei com minha mãe tudo a respeito. Eu estava muito feliz. Após desligar o telefone, vi o barulho no corredor. Abri a porta. E vi uma cena hiper satisfatória, vários brasileiros, todos sorrindo, meus amigos, que suaram tanto quanto eu aquele mês todo com receio de que tudo aquilo que haviam falado a respeito de trabalho em navio, geralmente mal, fosse verdade. Foi justamente ao contrário. O trabalho de “marinheiro” realmente era difícil, mas ao final, estava começando a ser compensador, financeiramente falando, pois como experiência de vida, é algo fantástico, que se por no papel, se eu ganhasse um terço do que ganhei eu deveria agradecer igualmente, pelo crescimento profissional e principalmente pessoal.

Todo mundo estava muito satisfeito com o salário recebido. Claro, sempre tem aquelas pessoas que insistem em ser negativas, que vêem defeito em tudo e que reclamaram sobre algum desconto e outro. Mas eu nem lembro o que disseram que não costumo dar atenção a esse tipo de gente. Quer um conselho? Faça o mesmo. Pessoas negativas lá dentro, só vão fazer com que você se sinta mais fraco e frágil, e o negócio já é difícil com uma visão positiva, imagina focando os problemas. Melhor não!

Fui na cabine da Dani, ela estava falando com a mãe dela, falando sobre a grana. Esperei ela terminar, enquanto isso fiquei conversando com a Marli... Ela estava tão feliz quanto, pois além de contas como todos nós tínhamos, a Marli tem uma filha, e era mais difícil ainda ficar longe sem ver lucro. A próxima parada do navio iria ser na Ilha Privativa da CVC, em Angra dos Reis. Como todo mundo estava com grana, marcamos de pegar um pagode na praia e curtimos melhor a ilha, dignos de passageiros. Como não havia tempo para falar com todo mundo, deixamos para marcar com o resto do pessoal no Crew Bar. Eu havia levado 2 pendrives, máquina digital, óculos, tudo em uma grande mochila.

A descida do navio para a ilha era em botes e escunas, e como esses barcos têm uma capacidade pequena de pessoas a bordo, faziam grandes filas para sair do navio. E, como era de se prever, os passageiros tinham prioridade para o desembarque na ilha. Porém para voltar ao navio, a prioridade era do CREW.

O dia estava maravilhoso, sol forte, céu azul, praia cheia, gente bonita, a paisagem em na praia sempre era ótima, tanto a natureza quanto as pessoas que se banhavam nela. A banda da ilha privativa já estava tocando e a galera toda já estava dançando. Eu fui na lan-house antes de ir curtir com a galera, uma facada, R$6,00 meia hora, mas atualizei, o que eu usava na época, o Orkut. Rsrs.

Sai da lan e a praia já estava fervorosa, a Dani já estava em frente a banda, com uma cerveja na mão, eu já passei no quiosque que ficava logo ao lado da tenda que era como se fosse uma pista, com a banda e espaço para dançar. Joguei a mala em cima da mesa e fui logo pra roda em frente a banda.

Dançamos, cantamos, bebemos, estávamos curtindo realmente aquele momento, esquecemos das dores nas pernas, dos dias de embarque, dos passageiros chatos e dos desentendimentos do navio. Parecia que estávamos de férias.

Foi nesse dia que comecei a observar as coisas de modo diferente, afinal, quanto cada um dos passageiros haviam pago para estar viajando ali? E os mais animados da ilha éramos nós, os tripulantes, curtindo todas ao lado de amigos de pouco tempo, porém de muito afeto e apego. Comecei a focar mais naqueles momentos, naqueles amigos que estavam comigo, na minha vida nova, e deixei de lado as lembranças e fatos que ficaram no porto quando embarquei afinal, naquele momento minha vida era aquela.

A tarde passou voando, já tínhamos que estar no navio, nos arrumando para o trabalho noturno, e ainda estávamos na ilha. Corremos para a Escuna, ela estava levando a penúltima leva de passageiros. Como sabiam que tínhamos horário a cumprir, embarcamos neste mesmo. Na ida para o navio, fomos falando sobre como foi agradável nossa tarde, vimos fotos, e rimos muito.

Peguei a câmera da Tati mineira, vi as fotos, estavam ótimas, e foi nesse momento que coloquei minha mão sobre a cabeça e gritei... PQP, MINHA MOCHILA!!!

Todo mundo olhou diretamente para mim na mesma hora... “O que aconteceu?”.. . “Ixi já era!”... “Será que alguém não levou?”... Cada um dizia uma coisa, mas eu só pensava em voltar à ilha para buscar, para mim que ela continuaria em cima da mesa ou em algum achados e perdidos da ilha.

Se eu embarcasse não deixariam sair pra procurar a mochila, então nem desci da escuna. Fui conversando com o homem responsável pela escuna, ele me deu algumas dicas das pessoas que eu deveria procurar para saber a respeito. Foi tudo em vão. Corri, o tempo começou a fechar, e minha mochila perdida, furtada ou sei lá o que havia acontecido. Fiquei mais algum tempo falando com algumas pessoas dos quiosques para saber se ninguém havia guardado. Nada, ninguém viu, ninguém pegou, ninguém guardou. Me contentei com a perda, afinal, foi bobeira minha. O que mais me doeu foram as fotos que perdi, momentos registrados que não se repetiriam mais. Segui para sair da ilha, e voltar ao navio. Pronto: cagada número 2, a última escuna já havia saído.

Corri, pedi (praticamente implorei) para um cara que estava indo para outra ilha, me levar até o navio, ele disse que não iria, pois o tempo havia fechado e o mar estava agitado, fora que ele não tinha obrigação nenhuma. Pedi mais algumas vezes e as outras pessoas, que assistiram todo o meu desespero pressionaram o cara também. Ele acabou me levando.

Chegando perto da entrada do navio. Só consegui ver o Morazam, um dos meus chefes, com o rádio na mão, confirmando a minha chegada. O olhar dele era de preocupação, e ao mesmo tempo, de reprovação. Subi as pressas ao navio. Passei pelo Morazam, ele estendeu o braço, me fez parar.

“Que paso? Le gusta Warnings?”

Eu lhe expliquei o ocorrido, ele mal ouviu, apenas me disse para correr para minha cabine que em 5 minutos já iria começar o turno da noite. Corri, novamente, todos no corredor me perguntando o que aconteceu. Quando eu cheguei na cabine que soube, pelo meu companheiro de cabine, o Vitor Hondurenho, que o meu nome foi repetido pelo capitão diversas vezes, e claro, ele não iria perder a oportunidade de dizer:

“Brasileño bruto”! Solo quier fiesta, no gusta trabajar!

Nem perdi tempo discutindo com ele, só pensava em ir logo pegar o cartão da minha sessão e iniciar o trabalho.

Cheguei à oficina, muita gente perguntando o que tinha acontecido. Expliquei várias vezes. A todo o momento eu lembrava que teria de gastar mais comprando uma nova máquina digital.

Tentei me concentrar no trampo, correu tudo tranqüilo, como de rotina.

Mas na volta para a oficina o assunto era outro. Havia um papel com letras enormes escrito: ¨MEETING” 8:00 AM.

Todos ficaram curiosos, inclusive eu, afinal ninguém tinha esquecido dos rumores sobre a peneirada para a Europa.

Muita gente disse que era apenas um meeting de rotina. Eles se enganaram...


COMO PUDERAM PERCEBER, EU REALMENTE TINHA ABANDONADO O BLOG, MAS UMA DAS COISAS QUE TRACEI COMO OBJETIVO ESSE ANO É DAR CONTINUIDADE E COMPARTILHAR COM VOCÊS TODA A MINHA TRAJETÓRIA A BORDO. A TERCEIRA PARTE DO VIDEO JÁ ESTÁ TODA FILMADA MAS NÃO TO CONSEGUINDO EDITAR COM O MESMO PROGRAMA POIS ELE ERA FREE SOMENTE 15 DIAS E NÃO SEI MEXER MUITO NESSE TIPO DE COISA, POR ISSO DEMOREI MAIS AINDA PARA VOLTAR PARA CÁ, POIS QUERIA POSTAR O VÍDEO ANTES... COMO NÃO CONSEGUI VOU DEIXAR PRA POSTAR ELE LOGO QUE EU CONSEGUIR EDITÁ-LO. CONTINUAREI A CONTAR A VERDADE NUA E CRUA DE UM TRIPULANTE... VOLTEM A ACOMPANHAR, INDIQUEM O BLOG E BORA ATUALIZAR ISSO TODA SEMANA... AGORA QUE O NEGÓCIO COMEÇA A PEGAR uahahuahuahuahuha....


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