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domingo, 19 de dezembro de 2010

Cap. 17 - Despedida Inesperada


... Quem trabalha ou trabalhou em navio sabe, os pés, além de doloridos, ficam podres. Eu nunca tinha tido calos nos pés ou outras pragas como frieiras e etc. Mas como no navio usa-se muito sapato e é uma correria do caramba, seus pés acabam "bichando" um pouco. Vocês que vão embarcar logo, levem algum remédio pra calo ou pra massagem relaxante pra pés e pernas, é ótimo.
Mas como diz o ditado popular, há males na vida que vem para o bem, e eu ali, na cama de cima do beliche da minha cabine, já soube como dar o troco no hondurenho que passava as horas de folga falando mal de brasileiros, o mesmo que poderia ter me acordado e evitado toda a situação contada no post anterior.
Voltei pra minha sessão de trabalho pra arrumação da noite. Tudo tranquilo, alguns "refuseds" e algumas cabines monstruosamente bagunçadas. Normal, temporada brasileira o povo faz festa mesmo. Entreguei a chave na oficina e passei na minha cabine, aquele dia eu estava muito cansado, nem tirei o uniforme, fui direto pro crew bar ver o pessoal. Estavam todos ansiosos para saber sobre a transferência de navio, para ter certeza de quem iria pra Europa ou não. O assunto entre a tripulação era esse. Nós tivemos o privilégio de saber antes sobre tudo isso, por nosso chefe Eldon ser totalmente correto com a equipe de trabalho dele. O cansaço me venceu e eu fui pra cabine, dormi como uma pedra.

Meu celular despertou e eu logo pulei da cama, agora a minha atenção com o horário era dobrada. Victor, o hondurenho que eu dividia cabine, estava entrando no banho, no exato momento que levantei. Olhei em cima do balcão da cabine, lá estava o copo dele, esperando para ser usado como de costume. Eu apenas ajeitei o uniforme e aguardei ele tomar banho, nesse meio tempo lembrei das coisas que ele vivia dizendo sobre brasileiros, e sobre a falta de companheirismo dele comigo. O meu pé estava todo fudido, eu tava com frieira, a pele descascava entre meus dedos e alguns pontos estavam na carne já, por eu ficar cutucando.
Antes dele sair do banheiro, peguei o copo dele, lembrando as coisas más que ele falava, e passei todo o orifício do copo entre meus dedos, é, exatamente onde estava a frieira, onde a pele estava saindo, onde tava podre mesmo. Não deixei um ponto sequer sem ter passado pela minha frieira, e coloquei o copo exatamente no mesmo lugar.
Ele saiu do banheiro, eu lhe desejei bom dia e entrei, escovei meus dentes, lavei o rosto, me preparei pro banho, mas, propositalmente deixei o material de higiene pessoal em cima da minha cama, voltei para pegar. Ele estava fazendo exatamente o que esperava. Encheu o copo com a metade do refrigerante que havia sobrado na garrafa, e tomou, tomou com gosto. Sabe quando a gente ta com sede, e termina de tomar água e faz aquele "aaaaaaah" de refrescância? Ele fez até esse sonzinho depois de enfiar a boca em todos os germes da minha frieira. (uahuahuahuah). Apenas sorri, peguei minhas coisas em cima da cama, e fui pro meu banho.
A semana estava acabando, e com isso, o cruzeiro também, era noite do comandante, e alguns camareiros são eleitos pra entregar os canapés durante a noite de gala. Eu fui dos felizardos para aquele dia.
Chegou a noite, fui para a oficina encontrar o pessoal que iria servir os canapés comigo. Eram divididos em dois turnos, seguindo o horário do jantar dos passageiros, primeiro ou segundo turno. Eu fui servir o primeiro turno, que é melhor, pois você serve rapidinho e corre pra sua sessão fazer as cabines, pois isso é um trabalho extra, eu tinha que arrumar as cabines com set up da noite quando terminasse de servir. Eu andava pelo teatro em passos rápidos e oferecia pra todos os passageiros que eu via. Passava pelas fileiras de cadeiras servindo todos, adorava quando haviam passageiros gulosos que pegavam quase a bandeja inteira, isso acelerava o trabalho e eu teria mais tempo de ir pra minha sessão.
Voltando pra minha sessão, passei pela sessão do Denilson, ele não estava lá, e no lugar dele estava o camareiro da sessão do lado. Perguntei dele, e disseram que ele havia recebido uma notícia e teve que ir até o crew purser (setor que cuida de documentação, passagens e de embarque e desembarque dos tripulantes). Estranhei, mas fui trabalhar, haviam 17 cabines a minha espera.
Foi no bar que eu fui saber o motivo pelo qual o Denilson foi falar com o pessoal do crew purser. A mãe dele estava no hospital, em coma, e ele foi se informar sobre as condições de ele poder ir pra casa e voltar depois. Isso é uma das coisas que todos os tripulantes temem: PROBLEMA NA FAMÍLIA. Digamos que o problema é em relação mais pra saúde mesmo, pois você estar longe, sem ver sua família, depois saber que algum parente está em coma, doente no hospital, é foda. Ele contou a situação pra nossa galera de sempre, apoiamos a ida dele pra casa, pois nesse caso, o tripulante desembarca com justificativa, então não é desistência, ele poderia voltar logo que sua mãe melhorasse. Foi o que aconteceu. Ele iria voltar pra Curitiba naquela mesma semana, e então foi feita uma pequena despedida entre os mais chegamos no crew bar mesmo. Sexta-feira, véspera de embarque, o dia em que os camareiros deviam ficar de repouso, pois dia de embarque é o dia mais foda pro camareiro. Mas estávamos lá, todos nós, bebendo, curtindo, e nos despedindo de um grande amigo. Ele chorou, a gente também, despedida é foda.
Mas o melhor de tudo é saber que ele logo voltaria, era questão de duas semanas, segundo o que o Crew Purser disse.
O pessoal do Crew Purser mentiu.

GALERA SEI QUE TO DEMORANDO DECADAS PRA POSTAR MAS TA MAIOR CORRERIA, MAS NÃO PENSEM QUE ABANDONAREI ISSO AKI, TENHO MTA COISA PRA CONTAR AINDA, ISSO QUE CONTEI ATÉ HOJE SÃO APENAS DOIS MESES DE CONTRATO. UAHUAHUAHUAHU

COMENTEM, DIVULGUEM, CRITIQUEM E PERGUNTEM, ESSE ESPAÇO É DE VOCÊS..... UM GRANDE BJOO E ABRAÇO PRA TODO MUNDO AÍ! ATÉ!

FOTO: A GALERA NA CABINE DA DANI CACHACINHA!