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terça-feira, 15 de maio de 2012

Cap. 22 - O Meeting

Todos levantamos um pouco mais cedo para nos aprontarmos para o "meeting"... Nos reunimos numa das salas de reunião usadas por passageiros em convenções e eventos. Enquanto a reunião não se iniciava, ficamos conversando bobagens e fazendo piada... Não sei como todos tínhamos tanto pique, mas creio que esse entusiasmo e as brincadeiras que faziam a vida lá ser mais fácil. O chefe Eldon entrou na sala, estava calmo e estava com todas as chaves das sessões e algumas folhas em mãos.
De praxe, iniciou o meeting mostrando fotos e falando sobre as coisas erradas que acharam na vistoria das cabines, as famosas e temidas inspeções. Falou dos comentários positivos dos passageiros e dos negativos também. Como eu sempre fui muito atencioso e simpático com meus passageiros nunca tinha problema com isso. O segredo de uma boa nota no comentário dos passageiros é puramente simpatia e prontidão quando algum hóspede pede algo. Isso vale para qualquer função no navio. O mais importante para a companhia é o passageiro sair satisfeito e desejar voltar. Isso conta MUITO. Elogios então são os que mais fazem moral com a chefia. Hahahaha.
   Após tudo isso, ele anunciou que haveria trocas de sessões. Havia muita reclamação a respeito disso, pois havia, camareiros que tinham sessões com muito mais passageiros que outros, e quanto mais passageiros, mais grana no final do mês. Mas a troca só seria feita após cada camareiro realizar o embarque.


Então a aceitação foi de boa referente a isso, claro que quem tinham sessões praticamente lotadas e foram retirados delas, ficaram putos, adivinhe quem, lógico que eram os hondurenhos ranzinzas e preconceituosos. Normal...


A reunião estava para acabar e as chaves de sessão iriam ser distribuídas, mas alguém que não me recordo agora, perguntou a respeito do "transfer" e se o boato que nem todos iriam para Europa era real. O silêncio imperou na sala. Eldon fitou todos da sala e então começou a falar:




"O "transfer" acontecerá sim e a lista dos nomes dos candidatos já foi enviada para Madrid, o restante está sendo avaliado, os outros setores também já entregaram suas listas e logo que tivermos retorno de Madrid eu avisarei vocês..."


A transferência foi confirmada... Saímos com sorriso no rosto, pois como já contei alguns capítulos atrás, nos voluntariamos para sermos transferidos, uma forma de garantir o trabalho na temporada européia.

Todos foram para suas sessões realizar mais um cansativo e apurado embarque. Eu. como de costume, arrumei apenas aquelas cabines onde viriam passageiros, e as outras eu iria arrumando enquanto as maletas não chegavam. Porém aconteceu um imprevisto. Uma das sessões para troca era a minha. O chefe Curt veio pelo corredor em passos largos e me chamou, me acelerando. Ele gritava meu nome no corredor, eu estava dentro de uma cabine terminando de arrumar o set up (papéis, cardápio, diário de bordo, etc) quando ele me achou. 

 - No hay terminado todavia hã? Cheif está llamando en la oficina!!!

Já senti um frio na barriga. Puts, o que eu fiz. Terminei aquela cabine e desci até a oficina. No caminho fui pensando no que poderia ter acontecido, foi aí que percebi o pior. Se eu fosse trocado de sessão, o novo camareiro responsável iria ver que as cabines que não foram listadas como ocupadas não haviam sido feitas.
PQP! pensei, fodeu véii! 
Cheguei na oficina, não tinha mais que 5 camareiros ali. Nem todas as sessões seriam trocadas, e eu tive que esperar um pouco mais para saber quem seria o novo responsável pelo meu setor. Estava rezando baixinho pedindo para que não fosse um hondurenho. E minhas preces foram ouvidas. O novo camareiro da minha sessão era o Bruno, um paulista muito gente fina que também havia se alistado para o TRANSFER. Nossa, foi um alívio imediato. O Curt pediu para que eu fosse mostrar a sessão para o Bruno e no caminho já expliquei toda a situação para ele:

- Bruno, ainda bem que é você. Deixa eu te avisar, teve umas cabines que não vai ter passageiro, que eu deixei por último e não deu tempo de terminar, então eu vou voltar com você, e já vou terminando elas. Foi mal mesmo, mas ta bem de boa, limpei todos os banheiros, peguei helper e tudo para deixar a sessão de boa.

- Então beleza, mas termina as que falta senão vai fode se alguém ver ou se tiver troca de cabine pra cabine vazia de lá. 

Eu respondi apenas com um sorriso. Ele, pelo menos pelo que disse, não ficou de cara. 
Mostrei a sessão a ele e finalizei, meio nas coxas, as cabines que não iriam ser ocupadas, porém devem ser limpas da mesma forma.
Curt me chamou novamente, agora seria entregue a nova sessão para mim. Novamente na oficina, vi um camareiro estrangeiro que logo levantou quando eu cheguei. Eu peguei a sessão dele, que ficava no Deck 2.


O deck de cabines de custo mais baixo  e também as mais lotadas. 
Todas as sessões do deck 2 eram cheias, em compensação, era onde se tinha mais problema de manutenção e bagunça. 
Fui conhecer minha sessão, o camareiro responsável por ela até então era um filipino recém promovido, ele era cleaner quando entrei, e agora havia subido de cargo para camareiro. Logo percebi o erro do chefe em tê-lo promovido. As cabines estavam imundas, empoeiradas e com o banheiro mofado. Se me pegassem numa inspeção ali iam, com certeza jogar tudo no meu C*! Eu fazia minhas "sapatarias", mas nada exposto daquele jeito. Já fiquei meio desesperado e vi que precisaria de ajuda pelo menos naquela primeira semana da sessão nova. Eu estava com todas as cabines ocupadas, se não me engano, uns 45 passageiros. Mais trabalho, mais dinheiro. 
Um dos fatos bem justos em um navio é isso. Os trabalhos mais pesados são valorizados, pois camareiros, garçons, bartenders, geralmente ganham mais do que o pessoal do Staff. Mas também é uma grana bem suada. 
A correria das maletas já tava começando, e agora eu tinha muito mais maletas para levar as portas das cabines. E pior, os passageiros do deck 2, eram os que mais levavam bagagem, parecia que iriam passar um mês no navio. Levavam mais coisas para 7 dias de viagem do que eu para 8 meses.
Os dias de embarque eram tão corridos que passavam voando... O trabalho era contínuo desde a hora que acordávamos até a hora de dormir. Primeiro noite de cruzeiro sempre tinha aquele jeitinho brasileiro. Me apresentava para os passageiros, explicava como utilizar as coisas das cabines, fazia as junções ou separações das camas e só. 
Eu estava com vergonha daquela sessão. O piso do banheiro da maioria das cabines da sessão estavam amarelados e com os cantos pretos de mofo e sujeira. Não tinha outra solução a não ser chamar minha salvação. A Lu, minha Helper. 
Pois sabia que era com uma sessão lotada que eu iria provar que tava cada vez melhor e que dava conta, garantindo assim uma boa grana no final do mês. 

Final do dia. Claro que fomos beber uma cervejinha no Crew Bar. Falamos sobre os passageiros novos, sobre as novas sessões, sobre quem iria de "TRANSFER" dos outros departamentos. 
Eu não fui o único que recebi uma sessão lotada, a Fran, que era minha vizinha de sessão no deck 6, também recebeu, porém continuou no deck. E os bochichos a respeito disso se iniciaram. 
Deixei a mesa e fui até o balcão do Crew Bar buscar mais cerveja e já falar com a Lu sobre ela ser minha helper aquela semana. Voltei pra mesa, galera estava em silêncio. Puxei uma cadeira e perguntei em som de riso: 

- Nossa o que aconteceu que ta todo mundo quieto? 

 Então a Marly respondeu:

- Alguém viu o Denilson? Era pra ele ter voltado hoje não é? 

Foi aí que entendi o silêncio. Denilson não havia reembarcado, como prometido pela companhia. 
A única notícia que tínhamos era que sua mãe já estava bem e que ele reembarcaria antes do Carnaval. 
Faltavam duas semanas para o Cruzeiro de Carnaval e um mês para ir para Europa.
Ainda estava em tempo. 
Fui dormir pensando a respeito daquilo. O medo e a insegurança não me deixaram dormir. Afinal, planejei tanta coisa, fiz tantos planos, investi para estar ali, minhas pernas doíam, meu corpo estava exausto, mas eu não poderia desistir. Resistindo a tudo aquilo eu estava provando a mim mesmo de quanto eu sou capaz. 
Mas e se nesses cortes que terão, eu acabar sendo dispensado? E se eu não conseguir mais um mês? 
Eu estava me deixando levar por aqueles medos e pensamentos negativos. Desci da cama, abri minha porta do guarda-roupa e peguei o cartão que estava grudado na porta. 
Era o cartão que eu escrevi antes de embarcar, com todos os motivos e objetivos que me fizeram estar ali naquele momento. Li, reli e fiquei observando cada palavra, fui lembrando de cada pessoa que desembarcou, por saudade, por cansaço, por não ser forte o suficiente. A dúvida sumiu da minha cabeça, foi substituída por uma certeza:

EU JÁ SOU UM VENCEDOR POR ESTAR AQUI, E VENCEDORES NÃO DESISTEM!

Voltei pra cama, com sorriso no rosto e com a certeza de que tudo daria certo...
Mas no navio tudo é imprevisível, e nem tudo ocorre como esperamos... 



DAEW GALERA. QUANTO TEMPO NÉ? TO POSTANDO NA MEDIDA DO POSSÍVEL... PORQUE TEM MUITA COISA AINDA PRA CONTAR POR AQUI... AS PERGUNTAS AGORA EU TO RESPONDENDO DIRETO NO COMENTÁRIO, ENTÃO COMENTA AÍ EMBAIXO E PERGUNTA QUE EU JÁ RESPONDO... EU TIRO BASE PRA ATUALIZAR NA MEDIDA QUE VÃO COMENTANDO PRA SABER SE UMA GALERA JÁ LEU OU NÃO... ENTÃO VC QUE ACABOU DE LER DA UM OI ALI HEHEHEHE... TUDO QUE FOI ESCRITO AQUI FORAM APENAS 2 MESES DE CONTRATO, AINDA FALTAM MAIS UNS 12... KKKK ENTÃO VAMO QUE VAMO hahahaha... OBRIGADO POR ACOMPANHAR E INDICA AÍ PRA GALERA!!!

FOTO: Ilha Privativa em Angra dos Reis...

PS: Me perdoem a escrita do espanhol, eu aprendi tudo lá e aprendi tudo só falando, então escrevo tudo errado kkkkkk