... Não havia ninguém que estivesse diferente de mim, todos
vidrados nos lábios do Eldon querendo saber quem iria ser transferido. Dos 13
nomes, apenas 4 sairiam da boca dele em alguns segundos...
- Danielle Cassoti...
Todos olharam para ela, que estava com cara de espanto.
- Daniele Souza...
Ela deu um grito. Ninguém entendeu se foi de susto ou de
surpresa, só sei que eu senti aquele nome entrando no meu ouvido como se fosse
uma agulha. A minha “irmã” ali dentro, a maior parceria que eu tinha feito ali estava
com transferência confirmada. E se caso eu não estivesse dentre os outros dois
nomes, com certeza as coisas não seriam nada fáceis pra mim.
- Luiz Gustavo...
Meu coração disparou, eu não soube direito o que senti.
Estava feliz por estar com Dani, mas e o resto, e toda a família que formamos
ali dentro? E a máfia dos 13? O que aconteceu com todo nosso plano?
Meus pensamentos se silenciaram para prestar atenção ao
último nome dito...
- Tatiane... (sobrenome não lembro RS)
Os 4 selecionados haviam sido citados. Por um momento o
silêncio dominou a sala, os olhos do Chefe Eldon fitou cada um de nós. E ele
encerrou o “meeting”.
Uma ou outra pergunta foi feita, ele apenas alegou que a
escolha foi feita direta de Madrid, que ele não foi responsável pela escolha
dos camareiros para o “transfer”, porém nem tudo que um chefe lhe diz, é
verdade.
Eram nós 4: eu, Dani, Tati Tlês e a Cassoti. O bom é que nós
quatro tínhamos uma ótima afinidade. O lado ruim foi que iríamos nos separar de
muita gente querida ali, seria tudo novo, um recomeço.
Voltei ao trabalho, lençóis, camas, banheiros, toalhas, tudo
foi sendo feito e substituído automaticamente, pois minha mente estava a mil,
pensando no que me esperava mais adiante, e claro, que minha ida a Europa
estava garantida. Mas não sei o porquê,
eu estava com medo daquela mudança toda.
Como esperado, o assunto no Crew Mess durante o almoço foi
somente esse. Perguntamos a respeito dos outros setores, ainda nada havia sido
falado sobre quem iria ou não. A gente como sempre, estava com a informação
adiantada.
Eu estava finalizando a refeição quando chegou a Dani e a
Marli. Tristes e sérias. A Dani nem precisou dizer nada, me olhou abriu um
sorriso e disse:
- Pelo menos vou ter você lá Gutto! – e olhou para Marli.
As duas dividiam cabine e eram praticamente irmãs, não tinha
como imaginar uma longe da outra. Era bem compreensível toda aquela confusão de
sentimentos.
Na verdade ninguém ficou muito contente com a notícia
ninguém esperava essa separação repentina da galera, mas navio é assim, a gente
não escolhe, é escolhido. O que mais preocupava agora era as últimas semanas no
Brasil e a separação da equipe que só se manteve pelas alianças e pelos laços
sentimentais que foram criados ali dentro.
No navio tudo fica muito intenso, os sentimentos afloram e
ficamos hipersensíveis, acabamos nos apegando fácil e criando uma dependência
das pessoas que é algo inimaginável em terra.
Tudo foi acontecendo muito rápido.
A galera do bar que foi denunciada pela brasileira mal amada
acabou se fodendo mesmo. Foram avisados que teriam que desembarcar em Santos e voltar para suas casas. Tudo por
causa de uma X9 ignorante e sem senso de equipe.
Alguns cortes começaram a ser feitos junto com o do Bar. No
nosso setor de Housekeeping não tinha nem como cortar muito, pois a desistência
era crescente e era difícil achar quem ficasse. Porém no Bar e Restaurante a
situação era diferente.
Soube que algumas pessoas do restaurante também tinham sido
avisadas a respeito do corte que poderia acontecer, mas não tinha sido citado
nome algum.
Com tanta informação na cabeça fui tentar dormir a tarde
para o trabalho render a noite, com a ajuda da minha super helper Lu, tínhamos
muita coisa a fazer. Em terra, com tanta coisa acontecendo ao nosso redor,
normalmente não dormiríamos, mas lá, meu querido, o corpo está tão cansado que
ele vence a mente e qualquer vontade de ficar em pé. Capotei.
Fui ao trabalho da noite, como sempre me surpreendendo, a
Lu, minha Helper, estava lá, já dobrando as toalhas e organizando nosso material.
Falei dela a respeito do “transfer”, que fiquei triste em separar da galera, e
que sentiria muita falta dela. Foi quando ela me deu a notícia: ELA TAMBÉM IRIA
DE TRANSFER PRO NAVIO DE PORTUGAL!
Um sorriso enorme surgiu em nossos rostos, nos abraçamos e
já fiz planos para ela continuar sendo minha Helper no misterioso e novo Sky
Wonder, que agora após a reforma iria se chamar ATLANTIC STAR.
Fomos pro batente. Como já falei, as cabines estavam tristes
de ver. E então fizemos uma tabela. É bom pra você que for embarcar de
camareiro ter o costume de fazer uma agenda com sua sessão. Digamos: A sessão tem 20 cabines, divida elas
em 5 dias, reserve dois pra imprevistos e troca de lençóis. Dessas 20, a cada
dia, 4 terão de ser limpas como faxina, com cloro ( que é proibido pra
camareiro porém você consegue pela máfia), revisão total de lâmpadas e etc. A
cada dia você da uma atenção maior para as cabines escolhidas. No final da
semana você terá uma sessão bem limpa e organizada (no caso de lâmpadas ou
armários com defeito reportar ao superior para que seja feita a troca) e nos
outros cruzeiros você vai mantendo. Fica muito mais fácil de trabalhar, pena eu
não ter um blog como esse pra pegar essas dicas pois demorei pra me tocar disso
rsrsrs.
Lá fomos nós, escolhemos as cabines de acordo com a chatice
do passageiro e também pelo estado de cada cabine, quanto mais visível, mais
urgente era.
Mas aquela sessão estava bem difícil de saber qual era a
pior. Suamos bastante aquele dia mais rendeu. EU ficava imaginando como era
cansativo pra Lu, pois ela trabalhar o turno dela todo de Cleaner (12 horas), e
ainda ia lá me “helpear”. Então o
cansaço dela era dobrado.
Finalizamos a sessão. Ambos mortos de canseira, mas ainda
aguentávamos uma cervejinha no Crew Bar.
Já no bar, as notícias haviam se espalhado, todo mundo veio
perguntar algo, falar a respeito do navio que iríamos e sobre a ansiedade de
saberem quem seria os escolhidos para o TRANSFER nos outros setores.
Quanto mais se falava naquilo, mas me agoniava, não queria
ficar sofrendo por antecedência, e nem deveria, afinal o objetivo era esse, só
não rolou realmente como a gente queria.
Sempre final de temporada brasileira rola muito bafo e
confusão, e sabemos que nós brasileiros adoramos um fuzuê, um agito, uma
novidade, e precisávamos daquilo no navio, a rotina era hiper cansativa, toda
emoção a mais era válida. E lá isso nunca faltou, nunca mesmo.
Após a nossa revelação a respeito do TRANSFER, os membros do
crew dos outros setores cobraram uma posição a respeito de seus chefes, afinal,
não poderia ter vindo uma lista apenas para o nosso departamento.
E ao decorrer da semana foi anunciado todo o crew, setor por
setor, que iria ser transferido para o navio de passageiros portugueses. Como
era de se esperar, foram poucos de cada departamento escolhidos para o
TRANSFER. O motivo ainda não se sabia, mas isso tudo era apenas uma questão de
tempo. Por sorte ou por ordem do
destino, como queiram, todas as pessoas que foram selecionadas dos outros
setores, eram pessoas de bem, animados, assíduos frequentadores do Crew bar e
de personalidade forte.
Começamos a desconfiar do critério de escolha.
Estava acontecendo muita coisa ao mesmo tempo. Além da
revelação dos transferidos, teve um sign off em massa nos setores de bar e
restaurante. No bar, uns 5 foram mandados embora por causa da fofoca da menina
e no restaurante por realmente escolha da companhia. Na época não sabíamos o
porque, mas depois percebemos que quando os “latinos” de língua nativa espanhol
voltam de férias, algumas cabeças “brasileiras” são cortadas, afinal, a língua
nativa dos passageiros, em sua maioria, na temporada europeia é espanhol, então
não estranhe quando ver que metade dos brasileiros foram boicotados para dar
espaço aos Hondurenhos e afins.
A semana estava chegando ao fim. Eu estava exausto com todo
o trabalho que fiz junto com a Lu na minha sessão, ela mais ainda. Faltavam
algumas cabines do nosso rodízio de “faxina”. Eu cheguei na sessão e de praxe,
minha helper já estava lá. Mas havia algo de diferente naquele dia, algo
inédito naquele navio. Havia mais alguém com ela.
- Tudo bem Adri? Vai fazer “helper” pra alguém?
Perguntei a cleaner que estava no corredor.
-Sim, vou fazer “helper” pra Lu!
Nós nos olhamos e caímos na gargalhada! Minha helper havia
contratado uma helper pra ela!
Puta veio, então imagine como que tava aquela sessão hein,
tava foda mesmo meu irmão HAHAHAHA!
Nos divertimos muito trabalhando aquele dia, os três. Foi
muito rápido e agradável, o trabalho podia ser pesado mas quando se faz em
harmonia e boa companhia o negócio rende e não cansa tanto.
A situação rendeu comentários no navio todo, a galera ficou
perguntando quanto eu pagava pra Lu pra ela poder pagar uma helper pra ela. Não
era nada fora dos padrões, mas eu e a tínhamos tanta afinidade que acho que ela
fez pra me ajudar mesmo, pra darmos conta.
Era o último dia de cruzeiro, na manhã seguinte os
passageiros iriam desembarcar. Com tudo que havia acontecido naquela semana, já
não esperava que nada me surpreendesse. Mas errei.
Só dei aquela passada no Crew bar pra ver a galera
rapidamente e ir dormir, pois véspera de embarque é concentração. Eu já estava
saindo do bar quando o encontrei novamente.
- Oh meu querido quanto tempo guri! Como você tá? – eu disse
logo que o vi.
- Que bom te ver cara! Vim te dar um abraço!
- Opa um abraço sempre é bom né.
Nós dois rimos.
Ele estava bonito e animado como sempre, ele me entusiasmava.
- Cara vim mesmo te dar um abraço e me despedir, vou embora
amanhã...
- Nossa! Mas como assim? Por quê? – respondi chocado.
- Me mandaram embora, me deram “sign off”! Disseram que fui
útil aos serviços prestados porém não necessitavam mais deles agora.
Eu não consegui disfarçar a minha decepção. Como a vida
poderia ser tão injusta? Um cara com uma história de vida como a dele, um
verdadeiro guerreiro, o cara que, com tudo que passou fez com que eu obtivesse
mais forças pra continuar ali, foi descartado assim? Simplesmente por um corte
de funcionários (brasileiros)? Porra fiquei de cara na hora. Mas ele mais uma
vez me surpreendeu.
Ele estava de boa, relaxado, feliz. Me olhou, pegou, me deu
um abraço e enquanto abraçados ele disse:
- Guri, não se preocupe, se eu estou saindo daqui é porque
Deus reserva algo muito melhor e maior pra mim lá fora... Precisamos largar
algo que está em nossas mãos para podermos apanhar outra coisa, ainda mais
valiosa, então nem se preocupe, estou bem, sei que se está sendo assim, é pra
ser e pra melhor! Foi muito bom te conhecer guri, a gente com certeza vai se
ver em terra.
Eu permaneci calado. Depois dessas palavras meus olhos
encheram de lágrimas. Nem tive nada a dizer. Ele estava totalmente certo e
sempre super otimista, acho que a fé dele era tão forte que as coisas, por mais
difíceis, sempre acabavam somando na vida dele, dando certo e lhe indicando o
caminho do sucesso e da felicidade.
Abracei ele mais forte ainda, e me despedi. Uma despedida
difícil e triste. Espero, de verdade, que ele esteja maravilhosamente bem, pois
a história dele me marcou muito e me fez repensar algumas coisas que me fizeram
crescer como ser humano. É gente, o cara lá daquela história de alguns
capítulos atrás foi dispensado. Injustiça? Dos homens talvez, mas de Deus
nunca.
Deitei na minha cama. Agora faltava pouco, e a Europa estava
garantida,mas será que era isso mesmo que eu queria? Só vivendo pra saber...
DESCULPE A DEMORA, MAS É QUE TO BASTANTE OCUPADO MESMO, TENTO SEMPRE IR ATUALIZANDO NA MEDIDA DO POSSÍVEL. AGORA DEU UMA ACALMADA E TO CONSEGUINDO CONCILIAR AS COISAS. ENTÃO PRETENDO ATUALIZAR AQUI MAIS RÁPIDO. COMENTEM, PERGUNTEM, CRITIQUEM, ELOGIEM, TODO COMENTÁRIO É VALIDO E TAMBÉM É UMA FORMA QUE SEI QUE LERAM E QUE DEVO ATUALIZAR. OBRIGADO MESMO POR ACOMPANHAREM E SEI QUE IRRITO E DECEPCIONOU VOCÊS PELA DEMORA PRA ATUALIZAR MAS É A CORRERIA MESMO. MAIS UMA VEZ AGRADEÇO VOCÊS QUE ME ACOMPANHEM E QUE INDICAM O BLOG NAS REDES SOCIAIS E PARA AMIGOS. PRECISANDO TO AQUI. PERGUNTEM QUE EU RESPONDO! Até logo!