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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cap. 24 - Uma semana turbulenta




... Não havia ninguém que estivesse diferente de mim, todos vidrados nos lábios do Eldon querendo saber quem iria ser transferido. Dos 13 nomes, apenas 4 sairiam da boca dele em alguns segundos...
- Danielle Cassoti...
Todos olharam para ela, que estava com cara de espanto.
- Daniele Souza...
Ela deu um grito. Ninguém entendeu se foi de susto ou de surpresa, só sei que eu senti aquele nome entrando no meu ouvido como se fosse uma agulha. A minha “irmã” ali dentro, a maior parceria que eu tinha feito ali estava com transferência confirmada. E se caso eu não estivesse dentre os outros dois nomes, com certeza as coisas não seriam nada fáceis pra mim.
- Luiz Gustavo...
Meu coração disparou, eu não soube direito o que senti. Estava feliz por estar com Dani, mas e o resto, e toda a família que formamos ali dentro? E a máfia dos 13? O que aconteceu com todo nosso plano?
Meus pensamentos se silenciaram para prestar atenção ao último nome dito...
- Tatiane... (sobrenome não lembro RS)
Os 4 selecionados haviam sido citados. Por um momento o silêncio dominou a sala, os olhos do Chefe Eldon fitou cada um de nós. E ele encerrou o “meeting”.
Uma ou outra pergunta foi feita, ele apenas alegou que a escolha foi feita direta de Madrid, que ele não foi responsável pela escolha dos camareiros para o “transfer”, porém nem tudo que um chefe lhe diz, é verdade.
Eram nós 4: eu, Dani, Tati Tlês e a Cassoti. O bom é que nós quatro tínhamos uma ótima afinidade. O lado ruim foi que iríamos nos separar de muita gente querida ali, seria tudo novo, um recomeço.
Voltei ao trabalho, lençóis, camas, banheiros, toalhas, tudo foi sendo feito e substituído automaticamente, pois minha mente estava a mil, pensando no que me esperava mais adiante, e claro, que minha ida a Europa estava garantida. Mas não sei o porquê,  eu estava com medo daquela mudança toda.
Como esperado, o assunto no Crew Mess durante o almoço foi somente esse. Perguntamos a respeito dos outros setores, ainda nada havia sido falado sobre quem iria ou não. A gente como sempre, estava com a informação adiantada.
Eu estava finalizando a refeição quando chegou a Dani e a Marli. Tristes e sérias. A Dani nem precisou dizer nada, me olhou abriu um sorriso e disse:
- Pelo menos vou ter você lá Gutto! – e olhou para Marli.
As duas dividiam cabine e eram praticamente irmãs, não tinha como imaginar uma longe da outra. Era bem compreensível toda aquela confusão de sentimentos.
Na verdade ninguém ficou muito contente com a notícia ninguém esperava essa separação repentina da galera, mas navio é assim, a gente não escolhe, é escolhido. O que mais preocupava agora era as últimas semanas no Brasil e a separação da equipe que só se manteve pelas alianças e pelos laços sentimentais que foram criados ali dentro.
No navio tudo fica muito intenso, os sentimentos afloram e ficamos hipersensíveis, acabamos nos apegando fácil e criando uma dependência das pessoas que é algo inimaginável em terra.
Tudo foi acontecendo muito rápido.
A galera do bar que foi denunciada pela brasileira mal amada acabou se fodendo mesmo. Foram avisados que teriam que desembarcar  em Santos e voltar para suas casas. Tudo por causa de uma X9 ignorante e sem senso de equipe.
Alguns cortes começaram a ser feitos junto com o do Bar. No nosso setor de Housekeeping não tinha nem como cortar muito, pois a desistência era crescente e era difícil achar quem ficasse. Porém no Bar e Restaurante a situação era diferente.
Soube que algumas pessoas do restaurante também tinham sido avisadas a respeito do corte que poderia acontecer, mas não tinha sido citado nome algum.
Com tanta informação na cabeça fui tentar dormir a tarde para o trabalho render a noite, com a ajuda da minha super helper Lu, tínhamos muita coisa a fazer. Em terra, com tanta coisa acontecendo ao nosso redor, normalmente não dormiríamos, mas lá, meu querido, o corpo está tão cansado que ele vence a mente e qualquer vontade de ficar em pé. Capotei.
Fui ao trabalho da noite, como sempre me surpreendendo, a Lu, minha Helper, estava lá, já dobrando as toalhas e organizando nosso material. Falei dela a respeito do “transfer”, que fiquei triste em separar da galera, e que sentiria muita falta dela. Foi quando ela me deu a notícia: ELA TAMBÉM IRIA DE TRANSFER PRO NAVIO DE PORTUGAL!
Um sorriso enorme surgiu em nossos rostos, nos abraçamos e já fiz planos para ela continuar sendo minha Helper no misterioso e novo Sky Wonder, que agora após a reforma iria se chamar ATLANTIC STAR.
Fomos pro batente. Como já falei, as cabines estavam tristes de ver. E então fizemos uma tabela. É bom pra você que for embarcar de camareiro ter o costume de fazer uma agenda com sua sessão.  Digamos: A sessão tem 20 cabines, divida elas em 5 dias, reserve dois pra imprevistos e troca de lençóis. Dessas 20, a cada dia, 4 terão de ser limpas como faxina, com cloro ( que é proibido pra camareiro porém você consegue pela máfia), revisão total de lâmpadas e etc. A cada dia você da uma atenção maior para as cabines escolhidas. No final da semana você terá uma sessão bem limpa e organizada (no caso de lâmpadas ou armários com defeito reportar ao superior para que seja feita a troca) e nos outros cruzeiros você vai mantendo. Fica muito mais fácil de trabalhar, pena eu não ter um blog como esse pra pegar essas dicas pois demorei pra me tocar disso rsrsrs.
Lá fomos nós, escolhemos as cabines de acordo com a chatice do passageiro e também pelo estado de cada cabine, quanto mais visível, mais urgente era.
Mas aquela sessão estava bem difícil de saber qual era a pior. Suamos bastante aquele dia mais rendeu. EU ficava imaginando como era cansativo pra Lu, pois ela trabalhar o turno dela todo de Cleaner (12 horas), e ainda ia lá me “helpear”.  Então o cansaço dela era dobrado.
Finalizamos a sessão. Ambos mortos de canseira, mas ainda aguentávamos uma cervejinha no Crew Bar.
Já no bar, as notícias haviam se espalhado, todo mundo veio perguntar algo, falar a respeito do navio que iríamos e sobre a ansiedade de saberem quem seria os escolhidos para o TRANSFER nos outros setores.
Quanto mais se falava naquilo, mas me agoniava, não queria ficar sofrendo por antecedência, e nem deveria, afinal o objetivo era esse, só não rolou realmente como a gente queria.
Sempre final de temporada brasileira rola muito bafo e confusão, e sabemos que nós brasileiros adoramos um fuzuê, um agito, uma novidade, e precisávamos daquilo no navio, a rotina era hiper cansativa, toda emoção a mais era válida. E lá isso nunca faltou, nunca mesmo.
Após a nossa revelação a respeito do TRANSFER, os membros do crew dos outros setores cobraram uma posição a respeito de seus chefes, afinal, não poderia ter vindo uma lista apenas para o nosso departamento. 
E ao decorrer da semana foi anunciado todo o crew, setor por setor, que iria ser transferido para o navio de passageiros portugueses. Como era de se esperar, foram poucos de cada departamento escolhidos para o TRANSFER. O motivo ainda não se sabia, mas isso tudo era apenas uma questão de tempo.  Por sorte ou por ordem do destino, como queiram, todas as pessoas que foram selecionadas dos outros setores, eram pessoas de bem, animados, assíduos frequentadores do Crew bar e de personalidade forte. 
Começamos a desconfiar do critério de escolha.
Estava acontecendo muita coisa ao mesmo tempo. Além da revelação dos transferidos, teve um sign off em massa nos setores de bar e restaurante. No bar, uns 5 foram mandados embora por causa da fofoca da menina e no restaurante por realmente escolha da companhia. Na época não sabíamos o porque, mas depois percebemos que quando os “latinos” de língua nativa espanhol voltam de férias, algumas cabeças “brasileiras” são cortadas, afinal, a língua nativa dos passageiros, em sua maioria, na temporada europeia é espanhol, então não estranhe quando ver que metade dos brasileiros foram boicotados para dar espaço aos Hondurenhos e afins.
A semana estava chegando ao fim. Eu estava exausto com todo o trabalho que fiz junto com a Lu na minha sessão, ela mais ainda. Faltavam algumas cabines do nosso rodízio de “faxina”. Eu cheguei na sessão e de praxe, minha helper já estava lá. Mas havia algo de diferente naquele dia, algo inédito naquele navio. Havia mais alguém com ela.
- Tudo bem Adri? Vai fazer “helper” pra alguém?
Perguntei a cleaner que estava no corredor.
-Sim, vou fazer “helper” pra Lu!
Nós nos olhamos e caímos na gargalhada! Minha helper havia contratado uma helper pra ela!
Puta veio, então imagine como que tava aquela sessão hein, tava foda mesmo meu irmão HAHAHAHA!
Nos divertimos muito trabalhando aquele dia, os três. Foi muito rápido e agradável, o trabalho podia ser pesado mas quando se faz em harmonia e boa companhia o negócio rende e não cansa tanto.
A situação rendeu comentários no navio todo, a galera ficou perguntando quanto eu pagava pra Lu pra ela poder pagar uma helper pra ela. Não era nada fora dos padrões, mas eu e a tínhamos tanta afinidade que acho que ela fez pra me ajudar mesmo, pra darmos conta.
Era o último dia de cruzeiro, na manhã seguinte os passageiros iriam desembarcar. Com tudo que havia acontecido naquela semana, já não esperava que nada me surpreendesse. Mas errei.
Só dei aquela passada no Crew bar pra ver a galera rapidamente e ir dormir, pois véspera de embarque é concentração. Eu já estava saindo do bar quando o encontrei novamente.
- Oh meu querido quanto tempo guri! Como você tá? – eu disse logo que o vi.
- Que bom te ver cara! Vim te dar um abraço!
- Opa um abraço sempre é bom né.
Nós dois rimos.
Ele estava bonito e animado como sempre, ele me entusiasmava.
- Cara vim mesmo te dar um abraço e me despedir, vou embora amanhã...
- Nossa! Mas como assim? Por quê? – respondi chocado.
- Me mandaram embora, me deram “sign off”! Disseram que fui útil aos serviços prestados porém não necessitavam mais deles agora.
Eu não consegui disfarçar a minha decepção. Como a vida poderia ser tão injusta? Um cara com uma história de vida como a dele, um verdadeiro guerreiro, o cara que, com tudo que passou fez com que eu obtivesse mais forças pra continuar ali, foi descartado assim? Simplesmente por um corte de funcionários (brasileiros)? Porra fiquei de cara na hora. Mas ele mais uma vez me surpreendeu.
Ele estava de boa, relaxado, feliz. Me olhou, pegou, me deu um abraço e enquanto abraçados ele disse:
- Guri, não se preocupe, se eu estou saindo daqui é porque Deus reserva algo muito melhor e maior pra mim lá fora... Precisamos largar algo que está em nossas mãos para podermos apanhar outra coisa, ainda mais valiosa, então nem se preocupe, estou bem, sei que se está sendo assim, é pra ser e pra melhor! Foi muito bom te conhecer guri, a gente com certeza vai se ver em terra.
Eu permaneci calado. Depois dessas palavras meus olhos encheram de lágrimas. Nem tive nada a dizer. Ele estava totalmente certo e sempre super otimista, acho que a fé dele era tão forte que as coisas, por mais difíceis, sempre acabavam somando na vida dele, dando certo e lhe indicando o caminho do sucesso e da felicidade.
Abracei ele mais forte ainda, e me despedi. Uma despedida difícil e triste. Espero, de verdade, que ele esteja maravilhosamente bem, pois a história dele me marcou muito e me fez repensar algumas coisas que me fizeram crescer como ser humano. É gente, o cara lá daquela história de alguns capítulos atrás foi dispensado. Injustiça? Dos homens talvez, mas de Deus nunca. 
Deitei na minha cama. Agora faltava pouco, e a Europa estava garantida,mas será que era isso mesmo que eu queria? Só vivendo pra saber...


DESCULPE A DEMORA, MAS É QUE TO BASTANTE OCUPADO MESMO, TENTO SEMPRE IR ATUALIZANDO NA MEDIDA DO POSSÍVEL. AGORA DEU UMA ACALMADA E TO CONSEGUINDO CONCILIAR AS COISAS. ENTÃO PRETENDO ATUALIZAR AQUI MAIS RÁPIDO. COMENTEM, PERGUNTEM, CRITIQUEM, ELOGIEM, TODO COMENTÁRIO É VALIDO E TAMBÉM É UMA FORMA QUE SEI QUE LERAM E QUE DEVO ATUALIZAR. OBRIGADO MESMO POR ACOMPANHAREM  E SEI QUE IRRITO E DECEPCIONOU VOCÊS PELA DEMORA PRA ATUALIZAR MAS É A CORRERIA MESMO. MAIS UMA VEZ AGRADEÇO VOCÊS QUE ME ACOMPANHEM E QUE INDICAM O BLOG NAS REDES SOCIAIS E PARA AMIGOS. PRECISANDO TO AQUI. PERGUNTEM QUE EU RESPONDO! Até logo!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cap. 23 - Um dia de domingo




O sol estava inspirador naquela manhã. Apesar do pouco tempo que tínhamos, sempre dava pra dar uma rápida escapada e observar aquela incrível dupla no horizonte. Apenas os dois, o Sol e o Mar, e mais nada. Me peguei olhando para a janela de uma das cabines externas quando um passageiro me chamou no corredor. Aquele dia eu havia acordado mais cedo, afinal uma sessão lotada no Deck 2 com certeza teria muita coisa pra fazer e resolver. Dito e feito.
O passageiro me solicitou mais uma vez no corredor, fui ver o que estava acontecendo. Lhe deu bom dia, ele logo respondeu:
- BOM DIA? Como posso ter um bom dia com isso do jeito que ta?
Fomos até a cabine dele e percebi o motivo do mau humor. O carpete estava todo úmido, ele jogou as toalhas no chão para poder pisar no carpete. Me desculpei e fui reportar ao supervisor do andar. Era a primeira vez que eu ia trabalhar diretamente com o Bucho, o supervisor bebum responsável pelos decks inferiores. Ele nem respondia o chamado. Já vi que aquela semana seria bem difícil de trampar. Tentei acalmar o passageiro, mas ele gritava no corredor. A vontade mesmo era de mandar ele tomar bem no meio daquele lugar, mas nessa hora temos que contar até 10, respirar fundo, soltar um sorriso simpático e tentar resolver o problema o mais rápido possível. Se caso o supervisor demora a responder, pode ligar direto na recepção e fazer a solicitação de manutenção/troca de cabine diretamente por lá. Foi o que eu fiz. Isso tomou meu tempo e eu não tinha limpado nem 1/3 da minha sessão.
Aquele dia, ainda bem que era navegação, eu parei de trabalhar quase às 16 horas da tarde. Eu tava guardando o carrinho de toalhas quando ele passou. Rapaz moreno, corpo escultural, sorriso lindo e além de tudo era super simpático além de tudo. Só havia um problema, ele namorava.
Na falta de cabines para a tripulação, alguns funcionários do navio acabam pegando cabines de passageiros mesmo. Óbvio que essa regalia nunca era dada pra galera do trampo de verdade. Eram os Staffs que tinham essa bendita sorte. Aconteceu isso no Soberano, e os dançarinos estavam ocupando as cabines de passageiros no deck 2. Então era bem provável que eu o veria todos os dias. O nome dele era Edson. A gente já tinha trocados olhares e conversado, e trocado alguns beijos, mas ainda eu tava com o meu ex na cabeça e me dava uma “bad” quando ficava com outro cara. Perdi várias oportunidades  por me privar. Mas a partir do Edson comecei a me permitir mais.
Ele percebeu que eu estava saindo do trampo aquela hora e me chamou para ir a sua cabine. Como era navegação, eu aceitei, afinal eu nunca dormia a tarde mesmo.
Finalizei o que tinha que fazer, fui a minha cabine, me preparei, afinal tudo poderia acontecer naquelas poucas horas de pausa que eu teria aquele dia.
Já na cabine do Edson, começamos a conversar, falar sobre tudo e todos, mas ambos sabiam que o objetivo daquele encontro não era esse. As coisas foram fluindo daquele jeito que nem preciso descrever aqui afinal não é conto erótico HAHAHA.
Mas na hora do “vamo vê” toda aquela lembrança veio a tona. A forma que a gente se olhava, se tocava, se acariciava, tudo aquilo explodiu na minha mente e o rosto dele impregnou no meu pensamento, faziam 2 meses que tínhamos nos despedido mas o sentimento que eu tinha pelo Juliano mantinha a mesma intensidade. Estraguei tudo.
Não consegui prosseguir e tivemos que parar ali mesmo. Ambos nus, estendidos na cama, ele sem entender e eu com vergonha de mim mesmo, me sentindo podre e sujo, com as lembranças de nossos encontros, nossas noites, nossos passeios, tudo muito nítido como um filme em resolução FULL HD na minha cabeça.
Depois desse papelão todo, fui pra minha cabine, tomei um bom banho e já fui comer algo, que logo voltaria a trabalhar. Fiquei pensando no que aconteceu durante todo o jantar. Vi o quanto ele estava me fazendo falta. Mas e será que estava sendo igual para ele? Será que ele também estava se privando. Preferi pensar que sim.

Saindo do Crew Mess, encontrei a minha amada HELPER, a avisei que eu já iria pra sessão e que teríamos muito trabalho. Não deu outra. Ela ficou horrorizada com tanta sujeira e “sapataria” que tinha na minha nova sessão. Então nos programamos para fazer A FAXINA nas cabines e entregá-la limpinha no final da semana, pois faltava pouco para a ida a Europa, e segundo informações e bochichos, não iriam todos, então quanto mais trampo eu mostrasse, mais chances de ir ao velho continente eu teria.
Quando acontece de pegarmos uma sessão toda “cagada” como a que foi me entregue, a melhor forma de resolver é ter calma e programar a limpeza de cabines por dia. Digamos que a sessão tem 18 cabines, divida pelo número de dias que restam para acabar o cruzeiro (sem contar com o desembarque/embarque). Se fizer isso logo de início, terá 6 dias para limpeza das cabines, então cada dia da semana você e seu ajudante (helper, pois não tem como fazer faxinão sozinho e ainda entregar todas as cabines no final do dia), no caso seriam 3 por dia. No restante das cabines faz a arrumação de rotina, se seguir exatamente isso no final da semana a sessão estará limpa e será bem mais fácil só manter.
No final da noite estávamos exaustos!!! Como era difícil trabalhar no Deck 2. Eram muitos passageiros, muitas cabines de 4 pessoas, bagagem excessiva que atrapalhavam muito a locomoção dentro do quarto. Fora que a galera chegava caindo e se arrastando pelo corredor, afinal o cruzeiro era open bar e tinha gente que passava o dia inteiro no balcão enchendo o caneco. Coitada da galera do bar. Mas também tinha como usufruir desse benefício dado aos passageiros.
Como a bebida era livre e não tinha como controlar exatamente o que era consumido pelos passageiros, as festas nas cabines da galera do bar era garantida e regada de bebidas de todos os tipos. E lógico que a gente se infiltrava também. Porém algo aconteceu.
Já não bastava o cansaço do dia de navegação, ainda o dia acabou com uma má notícia. Uma infeliz do bar, nova e pior de tudo, BRASILEIRA, caguetou toda a galera do bar que pegava uma bebida ou outra pra fazer “Cabin Party” e isso fez o maior fuzuê dentro do navio. O clima ficou tenso e era só o que se comentava no crew bar aquela no Crew Bar naquele final de domingo.
Uns 10 funcionários do Bar foram acusados pela lazarenta e todos estavam sendo ameaçados de ganhar o sign off justificado.
Eu já estava cansado e ainda aquela notícia pra finalizar o dia foi foda. Tomei um bom banho e fiquei pensando sobre todo aquele domingo longo e conturbado. Eram tantas coisa acontecendo ao mesmo tempo, tantas coisas a fazer e a pensar que era difícil se concentrar em uma só. Mas todo esse pensamento desapareceu assim que deitei. A exaustão fez com que eu apagasse na cama como uma luz se apaga quando desligada: Instantaneamente!

O relógio despertou. Parecia que eu havia tirado um cochilo, rezei para que o relógio estivesse errado, mas a realidade estava ali, estampada naqueles dois ponteiros, puts, hora de trabalhar.
Fui me arrastando até a Oficina para iniciar mais uma jornada. Tudo estava correndo como de costume até que, quando virei as costas para ir a minha sessão o Chef Eldon grita meu nome da sala dele. Pensei: “pronto, fiz cagada” e tentei lembrar de algo que eu tivesse feito, mas não me veio nada em mente.
Fui até a mesa dele e aguardei ele falar. Ele me olhou, olhou para um dos supervisores, me olhou de novo, e disse:

- NADA TICO, HABLAMOS DESPUES!
Pronto. Meu corpo gelou inteiro. “O que será que ele quer falar comigo? E por que decidiu falar só depois?” Eu pensei em dezenas de coisas que poderiam ser o motivo daquele diálogo, mas nenhuma das hipóteses era viável. Me contentei em esperar, morrendo de curiosidade, mas não tinha o que fazer além de esperar.

Fui a minha sessão, me concentrei nas cabines para não ficar pensando a respeito disso, e nem percebi que eu era o único que estava no corredor. Achei estranho, mas continuei, pois os outros camareiros deviam estar dentro das cabines por isso não estava ninguém a minha vista.
Entrei na cabine, sai, peguei as toalhas, voltei ao meu carrinho, nesse meio tempo um grito grave e alto chegou rapidamente aos meus ouvidos.
Era Bucho, o supervisor que não dava suporte nenhum, mas tinha prazer em cobrar e ficar no pé dos camareiros brasileiros.
- VÁ PARA O “MEETING”, ESTÃO TODOS LÁ JÁ!
- Meeting? Que meeting?
- Vamo “omê”, fizeram de última hora...
Disse a Dani Cassoti, uma as únicas que estavam na sessão, assim como eu.
Em passos largos, chegamos ao “meeting”. Havia algo diferente naquela reunião, só estavam os brasileiros. Chief Eldon observou eu e a Cassoti entrar, olhou para o Morazam, como se esperasse um OK do seu braço direito para que começasse a falar. Sinal positivo dado. Ele lançou:

- Sabemos que estão todos com várias cabines e todas lotadas nesse cruzeiro, por isso serei breve e direto. Lembram-se da lista de nomes que vocês, brasileiros, para o TRANSFER pro navio que fará Portugal? Então, recebi hoje pela manhã a resposta a respeito de quem vai.
Virou uma confusão, acho que todo mundo pensou que estava cochichando, mas tanta gente comentando ao mesmo tempo que já estava todo mundo aos berros.
O Eldon apenas parou de falar, e observou o alvoroço com aquela cara de dar medo. A gente percebeu e logo se calou.
- Continuando... Como sabem foi dada uma lista com 13 nomes para transferência, mas já aviso, quem escolhe quem vai para Portugal é a empresa e não eu.
Agora a reação foi contrária, ninguém falou um “A”.  O plano de garantir a ida para a Europa havia ido por água a baixo (bem conveniente para navio). Pois ele pediu voluntários, não tinha falado que teria uma seleção. Como seria se acontecesse de separar nossa galera, a gente se ajudava, a nossa união era o que nos dava força para continuar.
Eldon não deu atenção aos rostos revoltados em sua frente, apenas pegou o papel que estava na mesa, fitou a folha por 10 segundos, voltou a olhar para nós. Deu um sorriso de canto, e disse:
“Eu tenho 4 nomes aqui, que foram os escolhidos por Madrid para a transferência... Os nomes são..”
Todo mundo arregalou o olho com uma ansiedade do tamanho do mar para saber logo aqueles benditos nomes.
“Shiihwi Shihihiwhi”
O rádio chiou. Era uma chamada da recepção pedindo a verificação de uma cabine que estava apresentando problema. Isso atrasou o anuncio dos nomes por mais uns 40 segundos. Um dos 40 segundos mais longos da minha vida...


AEEEEEEEEEW GALERA MAL MESMO POR TA POSTANDO VAGAROSAMENTE AQUI MAS TO FAZENDO O POSSÍVEL.
 ACOMPANHEM, DIVULGUEM E ME COBREM MESMO ISSO AQUI... TO TRABALHANDO COM UM PROJETO PARALELO DE UMA WEBSÉRIE ENTÃO TO ME LASCANDO UM POUCO COM TANTA COISA PRA FAZER... MAS NÃO PARAREI DE ESCREVER AQUI ATÉ QUE EU CONTE TODA MINHA TRAJETÓRIA NESSE LOUCO E IMPREVISÍVEL MUNDO DOS NAVIOS!!! COMENTEM E DEEM SUA OPINIÃO A RESPEITO, ASSIM VOU VENDO QUANTAS PESSOAS JÁ LERAM A ATUALIZAÇÃO E ASSIM POR DIANTE.... UM BJOOOO =)

foto: Um amanhecer inspirador, visto da proa do navio.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cap. 22 - O Meeting

Todos levantamos um pouco mais cedo para nos aprontarmos para o "meeting"... Nos reunimos numa das salas de reunião usadas por passageiros em convenções e eventos. Enquanto a reunião não se iniciava, ficamos conversando bobagens e fazendo piada... Não sei como todos tínhamos tanto pique, mas creio que esse entusiasmo e as brincadeiras que faziam a vida lá ser mais fácil. O chefe Eldon entrou na sala, estava calmo e estava com todas as chaves das sessões e algumas folhas em mãos.
De praxe, iniciou o meeting mostrando fotos e falando sobre as coisas erradas que acharam na vistoria das cabines, as famosas e temidas inspeções. Falou dos comentários positivos dos passageiros e dos negativos também. Como eu sempre fui muito atencioso e simpático com meus passageiros nunca tinha problema com isso. O segredo de uma boa nota no comentário dos passageiros é puramente simpatia e prontidão quando algum hóspede pede algo. Isso vale para qualquer função no navio. O mais importante para a companhia é o passageiro sair satisfeito e desejar voltar. Isso conta MUITO. Elogios então são os que mais fazem moral com a chefia. Hahahaha.
   Após tudo isso, ele anunciou que haveria trocas de sessões. Havia muita reclamação a respeito disso, pois havia, camareiros que tinham sessões com muito mais passageiros que outros, e quanto mais passageiros, mais grana no final do mês. Mas a troca só seria feita após cada camareiro realizar o embarque.


Então a aceitação foi de boa referente a isso, claro que quem tinham sessões praticamente lotadas e foram retirados delas, ficaram putos, adivinhe quem, lógico que eram os hondurenhos ranzinzas e preconceituosos. Normal...


A reunião estava para acabar e as chaves de sessão iriam ser distribuídas, mas alguém que não me recordo agora, perguntou a respeito do "transfer" e se o boato que nem todos iriam para Europa era real. O silêncio imperou na sala. Eldon fitou todos da sala e então começou a falar:




"O "transfer" acontecerá sim e a lista dos nomes dos candidatos já foi enviada para Madrid, o restante está sendo avaliado, os outros setores também já entregaram suas listas e logo que tivermos retorno de Madrid eu avisarei vocês..."


A transferência foi confirmada... Saímos com sorriso no rosto, pois como já contei alguns capítulos atrás, nos voluntariamos para sermos transferidos, uma forma de garantir o trabalho na temporada européia.

Todos foram para suas sessões realizar mais um cansativo e apurado embarque. Eu. como de costume, arrumei apenas aquelas cabines onde viriam passageiros, e as outras eu iria arrumando enquanto as maletas não chegavam. Porém aconteceu um imprevisto. Uma das sessões para troca era a minha. O chefe Curt veio pelo corredor em passos largos e me chamou, me acelerando. Ele gritava meu nome no corredor, eu estava dentro de uma cabine terminando de arrumar o set up (papéis, cardápio, diário de bordo, etc) quando ele me achou. 

 - No hay terminado todavia hã? Cheif está llamando en la oficina!!!

Já senti um frio na barriga. Puts, o que eu fiz. Terminei aquela cabine e desci até a oficina. No caminho fui pensando no que poderia ter acontecido, foi aí que percebi o pior. Se eu fosse trocado de sessão, o novo camareiro responsável iria ver que as cabines que não foram listadas como ocupadas não haviam sido feitas.
PQP! pensei, fodeu véii! 
Cheguei na oficina, não tinha mais que 5 camareiros ali. Nem todas as sessões seriam trocadas, e eu tive que esperar um pouco mais para saber quem seria o novo responsável pelo meu setor. Estava rezando baixinho pedindo para que não fosse um hondurenho. E minhas preces foram ouvidas. O novo camareiro da minha sessão era o Bruno, um paulista muito gente fina que também havia se alistado para o TRANSFER. Nossa, foi um alívio imediato. O Curt pediu para que eu fosse mostrar a sessão para o Bruno e no caminho já expliquei toda a situação para ele:

- Bruno, ainda bem que é você. Deixa eu te avisar, teve umas cabines que não vai ter passageiro, que eu deixei por último e não deu tempo de terminar, então eu vou voltar com você, e já vou terminando elas. Foi mal mesmo, mas ta bem de boa, limpei todos os banheiros, peguei helper e tudo para deixar a sessão de boa.

- Então beleza, mas termina as que falta senão vai fode se alguém ver ou se tiver troca de cabine pra cabine vazia de lá. 

Eu respondi apenas com um sorriso. Ele, pelo menos pelo que disse, não ficou de cara. 
Mostrei a sessão a ele e finalizei, meio nas coxas, as cabines que não iriam ser ocupadas, porém devem ser limpas da mesma forma.
Curt me chamou novamente, agora seria entregue a nova sessão para mim. Novamente na oficina, vi um camareiro estrangeiro que logo levantou quando eu cheguei. Eu peguei a sessão dele, que ficava no Deck 2.


O deck de cabines de custo mais baixo  e também as mais lotadas. 
Todas as sessões do deck 2 eram cheias, em compensação, era onde se tinha mais problema de manutenção e bagunça. 
Fui conhecer minha sessão, o camareiro responsável por ela até então era um filipino recém promovido, ele era cleaner quando entrei, e agora havia subido de cargo para camareiro. Logo percebi o erro do chefe em tê-lo promovido. As cabines estavam imundas, empoeiradas e com o banheiro mofado. Se me pegassem numa inspeção ali iam, com certeza jogar tudo no meu C*! Eu fazia minhas "sapatarias", mas nada exposto daquele jeito. Já fiquei meio desesperado e vi que precisaria de ajuda pelo menos naquela primeira semana da sessão nova. Eu estava com todas as cabines ocupadas, se não me engano, uns 45 passageiros. Mais trabalho, mais dinheiro. 
Um dos fatos bem justos em um navio é isso. Os trabalhos mais pesados são valorizados, pois camareiros, garçons, bartenders, geralmente ganham mais do que o pessoal do Staff. Mas também é uma grana bem suada. 
A correria das maletas já tava começando, e agora eu tinha muito mais maletas para levar as portas das cabines. E pior, os passageiros do deck 2, eram os que mais levavam bagagem, parecia que iriam passar um mês no navio. Levavam mais coisas para 7 dias de viagem do que eu para 8 meses.
Os dias de embarque eram tão corridos que passavam voando... O trabalho era contínuo desde a hora que acordávamos até a hora de dormir. Primeiro noite de cruzeiro sempre tinha aquele jeitinho brasileiro. Me apresentava para os passageiros, explicava como utilizar as coisas das cabines, fazia as junções ou separações das camas e só. 
Eu estava com vergonha daquela sessão. O piso do banheiro da maioria das cabines da sessão estavam amarelados e com os cantos pretos de mofo e sujeira. Não tinha outra solução a não ser chamar minha salvação. A Lu, minha Helper. 
Pois sabia que era com uma sessão lotada que eu iria provar que tava cada vez melhor e que dava conta, garantindo assim uma boa grana no final do mês. 

Final do dia. Claro que fomos beber uma cervejinha no Crew Bar. Falamos sobre os passageiros novos, sobre as novas sessões, sobre quem iria de "TRANSFER" dos outros departamentos. 
Eu não fui o único que recebi uma sessão lotada, a Fran, que era minha vizinha de sessão no deck 6, também recebeu, porém continuou no deck. E os bochichos a respeito disso se iniciaram. 
Deixei a mesa e fui até o balcão do Crew Bar buscar mais cerveja e já falar com a Lu sobre ela ser minha helper aquela semana. Voltei pra mesa, galera estava em silêncio. Puxei uma cadeira e perguntei em som de riso: 

- Nossa o que aconteceu que ta todo mundo quieto? 

 Então a Marly respondeu:

- Alguém viu o Denilson? Era pra ele ter voltado hoje não é? 

Foi aí que entendi o silêncio. Denilson não havia reembarcado, como prometido pela companhia. 
A única notícia que tínhamos era que sua mãe já estava bem e que ele reembarcaria antes do Carnaval. 
Faltavam duas semanas para o Cruzeiro de Carnaval e um mês para ir para Europa.
Ainda estava em tempo. 
Fui dormir pensando a respeito daquilo. O medo e a insegurança não me deixaram dormir. Afinal, planejei tanta coisa, fiz tantos planos, investi para estar ali, minhas pernas doíam, meu corpo estava exausto, mas eu não poderia desistir. Resistindo a tudo aquilo eu estava provando a mim mesmo de quanto eu sou capaz. 
Mas e se nesses cortes que terão, eu acabar sendo dispensado? E se eu não conseguir mais um mês? 
Eu estava me deixando levar por aqueles medos e pensamentos negativos. Desci da cama, abri minha porta do guarda-roupa e peguei o cartão que estava grudado na porta. 
Era o cartão que eu escrevi antes de embarcar, com todos os motivos e objetivos que me fizeram estar ali naquele momento. Li, reli e fiquei observando cada palavra, fui lembrando de cada pessoa que desembarcou, por saudade, por cansaço, por não ser forte o suficiente. A dúvida sumiu da minha cabeça, foi substituída por uma certeza:

EU JÁ SOU UM VENCEDOR POR ESTAR AQUI, E VENCEDORES NÃO DESISTEM!

Voltei pra cama, com sorriso no rosto e com a certeza de que tudo daria certo...
Mas no navio tudo é imprevisível, e nem tudo ocorre como esperamos... 



DAEW GALERA. QUANTO TEMPO NÉ? TO POSTANDO NA MEDIDA DO POSSÍVEL... PORQUE TEM MUITA COISA AINDA PRA CONTAR POR AQUI... AS PERGUNTAS AGORA EU TO RESPONDENDO DIRETO NO COMENTÁRIO, ENTÃO COMENTA AÍ EMBAIXO E PERGUNTA QUE EU JÁ RESPONDO... EU TIRO BASE PRA ATUALIZAR NA MEDIDA QUE VÃO COMENTANDO PRA SABER SE UMA GALERA JÁ LEU OU NÃO... ENTÃO VC QUE ACABOU DE LER DA UM OI ALI HEHEHEHE... TUDO QUE FOI ESCRITO AQUI FORAM APENAS 2 MESES DE CONTRATO, AINDA FALTAM MAIS UNS 12... KKKK ENTÃO VAMO QUE VAMO hahahaha... OBRIGADO POR ACOMPANHAR E INDICA AÍ PRA GALERA!!!

FOTO: Ilha Privativa em Angra dos Reis...

PS: Me perdoem a escrita do espanhol, eu aprendi tudo lá e aprendi tudo só falando, então escrevo tudo errado kkkkkk




terça-feira, 13 de março de 2012

Cap. 21 - A ilha privativa


... Todos à minha volta estavam curiosos para saber o quanto eu havia ganhado. Eu contei as notas mais uma vez e a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi ligar para minha mãe, da mesma forma que liguei no primeiro salário, mas dessa vez a notícia seria outra. Fora as gorjetas que foi o que me quebraram o galho durante o mês, eu havia recebido 2.340,00 dólares, na época equivalia a 5.499 reais, pois trocando os dólares dentro do navio, conseguíamos o câmbio a 2,35 reais cada dólar.

Ninguém entendeu a minha pressa pra chegar a minha cabine, afinal, depois do decepcionante primeiro salário, não estávamos tão empolgados com o “PAY DAY”, mas graças a Deus, o conteúdo do envelope naquele dia tinha sido bem diferente do envelope passado.

Nos primeiros meses, geralmente nos primeiros três, há um desconto que a Pullmantur chamada de “calção”, uma forma de seguro caso o tripulante desistisse e rompe-se contrato, esse dinheiro seria usado para pagar a passagem de volta. O desconto é de 700 dólares (na minha época). Caso você cumpra o contrato todo, o valor é devolvido no seu sign-off. Mesmo com o desconto eu tinha recebido a bela quantia.

Peguei o telefone, liguei para minha mãe, ela mal pode me dar oi eu logo fui falando...

- Mãeeee! Vou ter que te dizer que foi mais um mês que não poderei depositar aqueles 1000 que peguei com você...

- Não tem problema filho, e ta compensando o trabalho?

-Mãe, não poderei depositar porque vou mandar dinheiro pra você vir aqui no porto de santos me ver, quero que pegue esse dinheiro pessoalmente, e aproveita e me traga um notebook também e uma máquina digital.

-Mas filho, vou ver como que ta o limite do meu cartão pra pegar tudo isso.

- Mãe, vou pagar tudo a vista, esse mês recebi, convertendo em reais, líquido de 5 mil conto manhêÊEÊ! Finalmente vi que valia a pena mesmo esse negóciooo!

Minha mãe ficou hiper feliz, senti o sorriso na voz dela, agora não sei se foi porque eu estava finalmente tendo resultado financeiro no trabalho que tanto me dediquei pra conseguir, ou porque eu iria pagar o que eu devia pra ela. (kkkk)

Combinei com minha mãe tudo a respeito. Eu estava muito feliz. Após desligar o telefone, vi o barulho no corredor. Abri a porta. E vi uma cena hiper satisfatória, vários brasileiros, todos sorrindo, meus amigos, que suaram tanto quanto eu aquele mês todo com receio de que tudo aquilo que haviam falado a respeito de trabalho em navio, geralmente mal, fosse verdade. Foi justamente ao contrário. O trabalho de “marinheiro” realmente era difícil, mas ao final, estava começando a ser compensador, financeiramente falando, pois como experiência de vida, é algo fantástico, que se por no papel, se eu ganhasse um terço do que ganhei eu deveria agradecer igualmente, pelo crescimento profissional e principalmente pessoal.

Todo mundo estava muito satisfeito com o salário recebido. Claro, sempre tem aquelas pessoas que insistem em ser negativas, que vêem defeito em tudo e que reclamaram sobre algum desconto e outro. Mas eu nem lembro o que disseram que não costumo dar atenção a esse tipo de gente. Quer um conselho? Faça o mesmo. Pessoas negativas lá dentro, só vão fazer com que você se sinta mais fraco e frágil, e o negócio já é difícil com uma visão positiva, imagina focando os problemas. Melhor não!

Fui na cabine da Dani, ela estava falando com a mãe dela, falando sobre a grana. Esperei ela terminar, enquanto isso fiquei conversando com a Marli... Ela estava tão feliz quanto, pois além de contas como todos nós tínhamos, a Marli tem uma filha, e era mais difícil ainda ficar longe sem ver lucro. A próxima parada do navio iria ser na Ilha Privativa da CVC, em Angra dos Reis. Como todo mundo estava com grana, marcamos de pegar um pagode na praia e curtimos melhor a ilha, dignos de passageiros. Como não havia tempo para falar com todo mundo, deixamos para marcar com o resto do pessoal no Crew Bar. Eu havia levado 2 pendrives, máquina digital, óculos, tudo em uma grande mochila.

A descida do navio para a ilha era em botes e escunas, e como esses barcos têm uma capacidade pequena de pessoas a bordo, faziam grandes filas para sair do navio. E, como era de se prever, os passageiros tinham prioridade para o desembarque na ilha. Porém para voltar ao navio, a prioridade era do CREW.

O dia estava maravilhoso, sol forte, céu azul, praia cheia, gente bonita, a paisagem em na praia sempre era ótima, tanto a natureza quanto as pessoas que se banhavam nela. A banda da ilha privativa já estava tocando e a galera toda já estava dançando. Eu fui na lan-house antes de ir curtir com a galera, uma facada, R$6,00 meia hora, mas atualizei, o que eu usava na época, o Orkut. Rsrs.

Sai da lan e a praia já estava fervorosa, a Dani já estava em frente a banda, com uma cerveja na mão, eu já passei no quiosque que ficava logo ao lado da tenda que era como se fosse uma pista, com a banda e espaço para dançar. Joguei a mala em cima da mesa e fui logo pra roda em frente a banda.

Dançamos, cantamos, bebemos, estávamos curtindo realmente aquele momento, esquecemos das dores nas pernas, dos dias de embarque, dos passageiros chatos e dos desentendimentos do navio. Parecia que estávamos de férias.

Foi nesse dia que comecei a observar as coisas de modo diferente, afinal, quanto cada um dos passageiros haviam pago para estar viajando ali? E os mais animados da ilha éramos nós, os tripulantes, curtindo todas ao lado de amigos de pouco tempo, porém de muito afeto e apego. Comecei a focar mais naqueles momentos, naqueles amigos que estavam comigo, na minha vida nova, e deixei de lado as lembranças e fatos que ficaram no porto quando embarquei afinal, naquele momento minha vida era aquela.

A tarde passou voando, já tínhamos que estar no navio, nos arrumando para o trabalho noturno, e ainda estávamos na ilha. Corremos para a Escuna, ela estava levando a penúltima leva de passageiros. Como sabiam que tínhamos horário a cumprir, embarcamos neste mesmo. Na ida para o navio, fomos falando sobre como foi agradável nossa tarde, vimos fotos, e rimos muito.

Peguei a câmera da Tati mineira, vi as fotos, estavam ótimas, e foi nesse momento que coloquei minha mão sobre a cabeça e gritei... PQP, MINHA MOCHILA!!!

Todo mundo olhou diretamente para mim na mesma hora... “O que aconteceu?”.. . “Ixi já era!”... “Será que alguém não levou?”... Cada um dizia uma coisa, mas eu só pensava em voltar à ilha para buscar, para mim que ela continuaria em cima da mesa ou em algum achados e perdidos da ilha.

Se eu embarcasse não deixariam sair pra procurar a mochila, então nem desci da escuna. Fui conversando com o homem responsável pela escuna, ele me deu algumas dicas das pessoas que eu deveria procurar para saber a respeito. Foi tudo em vão. Corri, o tempo começou a fechar, e minha mochila perdida, furtada ou sei lá o que havia acontecido. Fiquei mais algum tempo falando com algumas pessoas dos quiosques para saber se ninguém havia guardado. Nada, ninguém viu, ninguém pegou, ninguém guardou. Me contentei com a perda, afinal, foi bobeira minha. O que mais me doeu foram as fotos que perdi, momentos registrados que não se repetiriam mais. Segui para sair da ilha, e voltar ao navio. Pronto: cagada número 2, a última escuna já havia saído.

Corri, pedi (praticamente implorei) para um cara que estava indo para outra ilha, me levar até o navio, ele disse que não iria, pois o tempo havia fechado e o mar estava agitado, fora que ele não tinha obrigação nenhuma. Pedi mais algumas vezes e as outras pessoas, que assistiram todo o meu desespero pressionaram o cara também. Ele acabou me levando.

Chegando perto da entrada do navio. Só consegui ver o Morazam, um dos meus chefes, com o rádio na mão, confirmando a minha chegada. O olhar dele era de preocupação, e ao mesmo tempo, de reprovação. Subi as pressas ao navio. Passei pelo Morazam, ele estendeu o braço, me fez parar.

“Que paso? Le gusta Warnings?”

Eu lhe expliquei o ocorrido, ele mal ouviu, apenas me disse para correr para minha cabine que em 5 minutos já iria começar o turno da noite. Corri, novamente, todos no corredor me perguntando o que aconteceu. Quando eu cheguei na cabine que soube, pelo meu companheiro de cabine, o Vitor Hondurenho, que o meu nome foi repetido pelo capitão diversas vezes, e claro, ele não iria perder a oportunidade de dizer:

“Brasileño bruto”! Solo quier fiesta, no gusta trabajar!

Nem perdi tempo discutindo com ele, só pensava em ir logo pegar o cartão da minha sessão e iniciar o trabalho.

Cheguei à oficina, muita gente perguntando o que tinha acontecido. Expliquei várias vezes. A todo o momento eu lembrava que teria de gastar mais comprando uma nova máquina digital.

Tentei me concentrar no trampo, correu tudo tranqüilo, como de rotina.

Mas na volta para a oficina o assunto era outro. Havia um papel com letras enormes escrito: ¨MEETING” 8:00 AM.

Todos ficaram curiosos, inclusive eu, afinal ninguém tinha esquecido dos rumores sobre a peneirada para a Europa.

Muita gente disse que era apenas um meeting de rotina. Eles se enganaram...


COMO PUDERAM PERCEBER, EU REALMENTE TINHA ABANDONADO O BLOG, MAS UMA DAS COISAS QUE TRACEI COMO OBJETIVO ESSE ANO É DAR CONTINUIDADE E COMPARTILHAR COM VOCÊS TODA A MINHA TRAJETÓRIA A BORDO. A TERCEIRA PARTE DO VIDEO JÁ ESTÁ TODA FILMADA MAS NÃO TO CONSEGUINDO EDITAR COM O MESMO PROGRAMA POIS ELE ERA FREE SOMENTE 15 DIAS E NÃO SEI MEXER MUITO NESSE TIPO DE COISA, POR ISSO DEMOREI MAIS AINDA PARA VOLTAR PARA CÁ, POIS QUERIA POSTAR O VÍDEO ANTES... COMO NÃO CONSEGUI VOU DEIXAR PRA POSTAR ELE LOGO QUE EU CONSEGUIR EDITÁ-LO. CONTINUAREI A CONTAR A VERDADE NUA E CRUA DE UM TRIPULANTE... VOLTEM A ACOMPANHAR, INDIQUEM O BLOG E BORA ATUALIZAR ISSO TODA SEMANA... AGORA QUE O NEGÓCIO COMEÇA A PEGAR uahahuahuahuahuha....


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