Cap. 8 - Tudo as 1000 maravilhas

Continuando...

O relógio despertou as 7 e 30 da manhã, tomei uma ducha para despertar e vesti pela primeira vez o uniforme de camareiro. Não era bonito, mas era confortável. O "meeting" não reuniu só o meu departamento, foi uma reunião com todos os departamentos. E estavam lá todos os chefes, e o então tão falado e poderoso chefe geral de hotel da empresa. Ele chegou, em trajes simples mas elegantes. Alto de rosto bruto, assusta a primeira vista, mas logo percebe-se que é uma pessoa de boa alma. E foi quando reencontrei ele, o Mister Nuno, o cara que me aprovou e que fez com que eu estivesse ali, junto a ele novamente, mas dessa vez empregado e dentro do tão sonhado navio.

Ele nos deu as boas-vindas, nos alertou que não seria nada fácil o trabalho e entre uma coisa e outra perguntou quem já havia trabalhado com navio antes, ninguém levantou a mão. Eram todos novatos, todos. Alguns falavam outras línguas, outros haviam trabalhado em hotéis, mas ali, em navio cruzeiro, era a primeira vez de todos. Então estávamos todos no mesmo barco, literalmente né. (risos) rs

Após o meeting, tivemos a reunião com o nosso chefe, o nome dele era Eldon, da Guatemala. Ele tinha 3 assistentes, Morassã (não sei com escreve), Curt, e o Bucho ( se lê Butio, é apelido espanhol). Além deles haviam outros dois, que não recordo o nome agora, mas que não trabalhavam diretamente comigo.

A equipe foi apresentada para nós, os calouros, e logo depois nosso chefe Eldon passeou com a gente por todo o navio. Mostrando onde ficava cada lugar e assim fomos conhecendo e claro, tirando horrores de fotos.

Esse dia tivemos treinamento com o "Safety Officer", responsável pela segurança. Logo que entra pra qualquer barco você vai se encher disso, é treinamento um atrás do outros, mas só no começo, mas continuando tendo depois, mas não com tanta freqüência.

O nome do Safety era Chemma, (não esqueçam que no espanhol o "CH" tem som de "tch" como o tchê dos gaúchos.) ele era gente boa, parecia meio maluco até, mas eram divertidos os treinamentos dele, pelo menos nunca tive nenhum problema com ele. Qualquer dia posto uma foto dele aqui. Ele é espanhol.

Fomos comer, a cantina, ou restaurante da tripulação, ou melhor, Crew Mess, como é chamado no navio, era grande, mesas azuis e grandes também, ficava no deck 4 do barco, haviam 3 buffets com várias cubas com pratos diversificados. Me falavam que a comida era horrível, e até então não me pareceu tão ruim. Ao lado do crew mess, havia uma parte separada, que chamavam de Staff Mess, era onde as pessoas do Staff comiam. Havia uma diferença enorme entre os dois ambientes, e isso eu achei uma injustiça desde o início. Os "Staffs" são trabalhadores como nós, não tem o porquê de separar o crew dos staffs, mas os navios nem sempre são tão justos assim. Sorte de quem é crew, que, apesar do salário mais baixo, tem muitas regalias e trabalho leve. Não tão leve assim, mas digamos que comparado ao trabalho de quem come no Crew Mess, é bem fácil sim.

Nesse dia, era domingo, zarpamos com o navio em direção a Santos, a previsão de chegada era quinta-feira. Já acabando o horário do expediente, fomos ajudar os camareiros antigos, na maioria deles latinos, a terminar as cabines e já aprender como devíamos fazer. O trabalho aparentemente parecia fácil, arrumar uma cama ali, limpar um banheiro ali. Fácil demais.

Mas na real, eu embarquei num período fácil, final de "Crossing" (travessia do mar, geralmente feita sem nenhum passageiro, é usada para dar uma "geral" no navio, é a distância percorrida da localidade de uma temporada para outra. Neste caso, o navio veio de Miami, era a primeira temporada dele nas mãos da Pullmantur), faltando apenas uma semana para embarque, chefe Eldon no comando, isso significava que estava tudo em ordem, nada atrasado, todos os banheiros estavam limpos, só faltavam algumas camas e set ups das cabines a serem feitas, nada que um time de 70 camareiros fizesse rápido e bem feito nesses 4 dias que teríamos a frente.

Entre os camareiros haviam várias nacionalidades, pessoas do Panamá, Guatemala, El Salvador, Colômbia, Peru, Argentina Chile, na verdade de toda a América Latina e Central, mas a grande maioria de Honduras. Haviam outras nacionalidades também, pessoas das Filipinas, Indonésia e alguns europeus dos Países Baixos. Da europa mais conhecida, de países como Espanha, Itália e etc eram mais cargos de chefia. Camareiros eram mais essas nacionalidades, mas haviam muitos Cleaners filipinos e indonésios.

O cargo de cleaner é um cargo abaixo do de camareiro, ganham cerca de 700 dólares por mês, trabalham 12 horas por dia, geralmente horas corridas, e são eles que você, se camareiro, vai chamar para ser seu helper, o seu ajudante no dia de embarque e nos dias que seu corpo está podre e você não consegue fazer o "trampo" sozinho.

O expediente acabou, fomos pro Crew Bar.

O Crew Bar do Soberano é muito bem estruturado. Era um bar com área interna e externa, grande com mesas redondas e na parte interna sofás. Em ambas partes haviam o balcão do bar, e o bartender do crew ficava em apenas um deles, isso dependia das condições do tempo, mas você poderia ir até ele em qualquer momento do dia, fora da sua hora de trabalho, supostamente.

Outro dia coloco a foto do bar.

A nossa galerinha era uma das mais animadas do barco, bebíamos, fazíamos piada de tudo, e dá-lhe cerveja. Tudo estava sendo uma maravilha. Não poderia reclamar de nada. Liguei pra minha mãe e contei como estava tudo. Ela ficou super feliz em saber que estava tudo bem.

Eu achei tudo muito fácil, mas na verdade eu não tinha visto nada, aquilo era apenas um começo, muito feliz por sinal, pode se dizer que foi até uma excessão a primeira vez de muitas outras pessoas.

Mas ainda era o 2ª dia, apenas o segundo. Segundo meu contrato, haviam mais 5 meses e 28 dias ali dentro.

E até então estava tudo bem, até então.

CONTINUO AMANHÃ GALERA, CONTINUEM COMENTANDO E DIVULGUEM O SITE AIH RSRSRSRS

foto: eu no tour pra conhecer o navio com o chefe Eldon!